Título: Primeiras vítimas do dólar barato
Autor: Rafael Rosas
Fonte: Jornal do Brasil, 22/05/2005, Economia & Negócios, p. A17
A despeito do resultado positivo na balança comercial, setores moveleiro e calçadista amargam prejuízos com câmbio baixo
A queda do dólar, que atingiu este mês o patamar nominal mais baixo dos últimos três anos, ainda não chega a afetar os resultados da balança comercial. A rigor, o saldo entre exportações e importações apresenta expressiva elevação em relação ao de igual período do ano passado. Até a segunda semana de maio, o superávit atingiu US$ 13,587 bilhões, frente aos US$ 9,269 bilhões no mesmo período de 2004. Mas os sucessivos recordes não são regra para todos os setores envolvidos no comércio exterior.
Na quinta-feira, representantes do setor moveleiro se reuniram com parlamentares catarinenses para pedir uma solução para a constante desvalorização da taxa de câmbio. Apenas na última semana, o dólar sofreu perda de 1,33%, cotado a R$ 2,44 na sexta-feira. O envolvimento de deputados e senadores de Santa Catarina se explica pelo fato de o Estado ser o maior exportador de móveis do país, com vendas equivalentes a 50% de tudo que o setor negocia com o exterior anualmente.
A Associação Brasileira das Indústrias do Mobiliário (Abimóvel), que engloba 16 mil empresas e tem 295 mil empregados, contabilizou exportações de US$ 313 milhões de janeiro a abril deste ano, crescimento de 19% na comparação com os US$ 262 milhões do primeiro quadrimestre de 2004. A média do dólar comercial, no entanto, passou de R$ 2,898 de janeiro a abril do ano passado para R$ 2,647 agora, uma redução de 8,67%.
- As empresas estão exportando agora vendas negociadas há seis meses. Muitas delas são feitas hoje com prejuízo para as indústrias - afirma Miguel Sanchez, superintendente da Abimóvel.
Para Domingos Rigoni, presidente da Abimóvel, qualquer empresa que exporte móveis com o dólar abaixo de R$ 2,70 ''não consegue ganhar dinheiro''.
- Tínhamos a expectativa de fechar 2005 com crescimento de 20% nas exportações, mas acredito que vamos terminar o ano muito próximos das exportações do ano passado - diz Rigoni.