Título: Quando a bolsa deixa de ser acessório
Autor: Samantha Lima
Fonte: Jornal do Brasil, 22/05/2005, Economia & Negócios, p. A20

Mulheres descobrem o mercado acionário e comemoram retorno 19% superior ao Ibovespa em seus investimentos em um ano

Elas se reúnem uma vez por mês. Trazem novidades, trocam dicas, comentam as últimas notícias e decidem o que fazer com o dinheiro. No fim, algumas ainda arriscam uma dose de vinho. A descrição poderia caber em qualquer reunião de amigas, mas, para 45 mulheres, esse é o ritual que define a estratégia de investimento de um patrimônio de R$ 50 mil, que cresce em média R$ 4 mil por mês, aplicado em um ativo ainda pouco associado ao universo feminino - o mercado de ações. Formado por integrantes de vários estados, o clube de investimento MulherInvest completou um ano de fundação na última semana. Além dos 12 meses de convivência, elas comemoraram a conquista de conhecimentos que lhes permitiram se lançar na Bolsa de Valores em busca de maior rentabilidade para suas aplicações. Desmentindo o suposto conservadorismo feminino na hora de investir, elas já obtiveram retorno médio de 31% do que investiram. No período, o Ibovespa valorizou-se 25%.

O grupo reúne mulheres como a aposentada Lucy Sabóia, a advogada Mônica Eyer e a empresária Marlene Troisgros. Na maioria dos casos, elas não tinham familiaridade com o tema. Na hora de investir, buscavam fundos de renda fixa. A maior ousadia que se permitiam era aplicar em fundos de investimento em ações geridos por bancos. Mas, incentivadas pela consultora Sandra Blanco, dispensaram os conselhos do gerente do banco e tomaram a frente de suas aplicações.

Em reuniões mensais no Boteco 66, do chef Claude Troisgros, o grupo avalia o desempenho de sua carteira, composta de 13 papéis. Elas analisam quais papéis caíram, quais continuam se valorizando, o potencial de cada ação e as decisões de compra e venda de ativos.

- Eu morria de medo. Agora, já procuro me informar sobre as empresas e a conjuntura econômica. Invisto R$ 100 por mês e estou muito feliz com o que conquistamos. Antes, eu só ouvia, mas agora opino. Dizem que a mulher é intuitiva, e eu confesso que dou uma olhada no calendário da lua antes de opinar - brinca Marlene Troisgros.

Mais pragmática, a advogada Mônica Eyer reconquistou no grupo a coragem de investir no mercado acionário que havia perdido há dez anos.

- Na época, apliquei o que tinha em três papéis, seguindo a ''onda'' de um corretor. Acabei me ''arrebentando'' e fiquei com medo. Naquela época, eu queria ganhar dinheiro com especulação. Nossa proposta agora é de um investimento de longo prazo. Além do clube, ousei criar uma carteira própria. Acompanho as notícias, busco informações sobre as empresas. Mas as mulheres ainda são muito medrosas. Não consegui trazer nenhuma amiga ainda para o clube.

Os aportes são feitos mensalmente. O investimento mínimo do grupo é de R$ 100. O valor levantado por mês é aplicado logo após a reunião mensal, de acordo com a decisão de todas.