Título: O menino-prodígio do cinema nacional
Autor: Andrucha Waddington
Fonte: Jornal do Brasil, 22/05/2005, Caderno B, p. B6

Andrucha é veloz. Fala torrencialmente, as palavras jorram da sua boca, gesticula, agitado. Teve pressa também na vida: aos 16 já estava casado e exibia seu primeiro curta-metragem. Aos 20, montara uma emissora de TV em Búzios e trabalhara com diretores como Cacá Diegues e Hector Babenco. Aos 30, tinha feito dois filmes e vários documentários e era um sucesso do cinema nacional com Eu, tu, eles, produção que também estourou no exterior. Agora este menino-prodígio do cinema nacional aparece com um filme prodigioso: Casa de areia. Andrucha é voraz. As filmagens de Casa de areia ainda estavam pelo meio e já burilava seu próximo filme, Os penetras, cuja sinopse revela nesta entrevista, em primeira mão. É um menino guloso pelo cinema: só uma voracidade como esta leva uma pessoa a rebocar esposa (Fernanda Torres) e sogra (Fernanda Montenegro) e mais 180 pessoas para uma imensidão deserta e calorenta no meio do Maranhão porque sonhou uma noite com uma mulher que morava numa paisagem parecida com a Lua. Esta história e muitas outras estão aqui nesta entrevista apetitosa, servida no terraço da casa do Ziraldo e acompanhada por fartas porções de pão de queijo mineiro. (Ricky Goodwin)

Ziraldo ¿ Você gostou de Casa de areia? Andrucha Waddington ¿ Fiquei feliz com o filme. Não fiz nada que não quisesse nem deixei de fazer algo que quisesse.

Ziraldo ¿ Por que a receptividade da crítica foi maior para Eu, tu, eles? Andrucha ¿ Casa de areia é um filme intimista, exige concentração e foi exibido pela primeira vez no Open Air para um público disperso, com um show acontecendo do lado. Cinco dias depois, passamos em Recife para 3 mil pessoas. Quando saí do cinema, uma pessoa veio correndo: ¿Tô esperando só pra te dizer que o teu filme é uma merda!¿. A irmã, que estava do lado, falou com ele: ¿Você é que é insensível!¿ ¿Como, insensível?! Eu fiz fimose!¿ (risos). Mas realmente tomamos uma porrada em Recife. Agora que estreamos no Rio é que as críticas estão sendo favoráveis.

Ziraldo ¿ Você sofre com as críticas agressivas? Andrucha ¿ Fico triste um dia, com raiva no segundo e no terceiro mando à PQP. Depois passa. Faço um Fisher-Hoffman de duas horas, dou soco na parede, chute no pneu e tô curado. O que tá acontecendo é que a crítica virou orientação de consumo, deixando de ser uma análise. Crítica não é apenas ficar escrevendo: ¿Gostei. Não gostei¿.

Ziraldo ¿ Acho Casa de areia impactante. A história é pungente. Você e Walter Salles filmam muito bem. E você inventou uma linguagem de passagem de tempo atordoante. Andrucha ¿ O filme se passa em 1910, 1919, 1942 e 1969. Chegamos a colocar as datas no filme mas percebemos que era desnecessário. O corte mais epistemológico é de 1919 pra 1942, quando mudam as atrizes. Ali você demora uns dois minutos pra entender, mas isso é uma coisa gostosa do filme. Gosto de brincar com o espectador. A imagem tem um poder de diálogo que não precisa explicar tudo na palavra.

Ulisses Mattos ¿ Você não teme afastar o público que quer tudo mastigado? Andrucha ¿ Na campanha de lançamento deixamos claro que não é um filme convencional. Não adianta enganar e levar o público errado pro cinema. Galera que gosta de Rambo, de ouvir tiros e não gosta de pensar sobre a mulher não vai gostar do filme. É um filme que fala da alma feminina.

Renato Lemos ¿ Eu, tu, eles também era um filme de mulher. Andrucha ¿ Concordo, mas tinha comédia. Casa de areia só tem humor no final.

Ricky Goodwin ¿ Ziraldo perguntou se você gostou do filme e você respondeu sobre o produto acabado. Você gostou também de rodar o filme, ir lá praquele areal, naquele calorão, cheio de coisa pra dar errado? Andrucha ¿ Adorei! Dunas de 80 metros de altura... A primeira vez que vimos o lugar foi uma porrada. Chovia muito, época de abril, acampamos numa barraca, eu, Helena, o diretor de fotografia e um produtor. Realmente, parecia a Lua. Fomos mais 11 vezes lá pra mapear a região, entender como lidar com o clima, descobrimos que só tem três meses em que não chove nem venta demais. Os Lençóis são um retângulo de 80Km x 60Km. Nós escolhemos ficar na Vila de Santo Amaro, a cinco horas de jipe de São Luís, com 1.900 habitantes e duas pousadas, uma com cinco quartos sem janela, outra com oito quartos das quais duas em construção. Botamos janelas nos quartinhos e terminamos a pousada em construção. E convencemos um italiano de São Luís a levar uma pizzaria pra lá pra gente ter onde comer.

Fernando de Castro ¿ Quantas pessoas tinha na sua equipe? Andrucha ¿ Umas 120 de fora e 250 da população local. Eu fiquei lá três meses direto, mas de filmagem foram oito semanas.

Ziraldo ¿ O areal do Maranhão é continuação do Saara, sabia? Tá tudo na mesma linha! Só que é um deserto perto do mar. Andrucha ¿ E tem lençol freático, quer dizer, brota água no meio da areia. Pra ir filmar no mar era uma hora e meia andando pelas dunas. A gente se perdeu uma vez, vagamos durante cinco horas, a maré subiu e tirou as marcas de carro que a gente pretendia seguir.

Ricky ¿ Você, que é animado, tava curtindo aquilo, mas, como bom genro, fez questão de arrastar sua sogra praquele fim de mundo, deu até insolação nela! Andrucha ¿ Ó, a Nanda reclamava, mas Fernandona era operário-padrão. Assim: ¿Fernanda, vamos aproveitar a folga pra fazer um planinho¿. ¿É óbvio! Folga pra quê? Vamos filmar!¿ A equipe ficava: ¿Não pergunta mais pra ela, pelo amor de Deus!¿ Dona Fernanda, 75 anos, topando trabalhar na folga, quem vai dizer não? A Nanda curtiu, mas pelo fato de ir com o marido, que era diretor do filme... Como atriz, ela normalmente não tem acesso à cozinha da produção, é poupada dos problemas, mas mesmo a gente morando em casas separadas ela sabia o que se passava nos meandros e tinha uma angústia maior.

Fernando ¿ E a estafa da equipe? Andrucha ¿ Cinema tem os que riem, os que choram e os que vão embora. Tinha uns que choravam todo dia. Quatro jogaram a toalha e foram embora. Eu tô sempre rindo. Quanto maior o problema mais calmo eu fico. Fico nervoso é quando a coisa tá frouxa demais. Três meses num lugar sem celular? Ótimo, voltamos a fazer cinema como antigamente.

Renato ¿ E na hora de mandar a Fernanda Montenegro refazer uma tomada, como é? Na boa? Andrucha ¿ Na ótima! É uma troca. A primeira contribuição da Fernanda foi quando lemos o roteiro. Chegamos na página dez, depois de seis horas de leitura, linha a linha, e ela falou: ¿Mas, meu filho, onde está a dramaturgia?¿ Sumi por dois meses! Depois ela fez um pedido que, na verdade, foi um presente: que as filmagens fossem em ordem cronológica. O tempo da filmagem foi andando junto com a narrativa do roteiro.

Ulisses ¿ Quem você escalaria se não tivesse as Fernandas? Andrucha ¿ Marília Pêra e Mariana Lima. Mas desde o zero foi escrito pras Fernandas.

Ziraldo ¿ A trepada da Fernanda nesse filme é linda, toda em preto e branco, mas não sei como o marido filmou aquilo. Andrucha ¿ Marido filma. Marido não pensa. Pelas costas não dói, né bicho, mas pela lente...

Ziraldo ¿ Como é que nasceu a idéia de Casa de areia? Andrucha ¿ Luís Carlos Barreto chegou do Ceará e me contou: ¿Vi uma fotografia na parede de um botequim com uma casa encoberta pelas dunas. O dono do botequim falou que quem morava lá era uma senhora que passou a vida inteira lutando contra a areia. Quando ela morreu, a areia tomou conta e foi como se a vida dela nunca tivesse existido. Você tem que fazer esse filme¿. Sonhei com essa história e na manhã seguinte liguei pro Barreto: ¿Tô indo pra sua casa pra começar a fazer o filme¿. Ficamos um ano na construção da história: eu, ele e Helena Soares.

Ziraldo ¿ Onde vocês descobriram o eclipse? Andrucha ¿ Como a personagem ia viver 60 anos, fizemos a pesquisa do século, porque como estavam todos isolados ali, todas as informações teriam que vir do céu. Em 1910 usamos o cometa Halley. Em 1919, vimos que Einstein mandou sua equipe fotografar o eclipse total do sol em Sobral, pra comprovar a teoria geral da relatividade. Transportamos essa equipe pro deserto do Maranhão. Em 1942, com a guerra, tinha os aviões que, pra fugir dos submarinos alemães, desciam e sobrevoavam a costa norte brasileira até Natal, onde abasteciam e seguiam pra Dacar. Numa pesquisa de locação entrevistei uma senhora que contou: ¿A gente não tinha nenhuma notícia da guerra, mas sabia que ela existia porque todo dia passavam uns 60 aviões¿. Em 1969, o fato foi o homem na Lua.

Ziraldo ¿ Certos filmes tinham que ter libreto igual a óperas. Mas vamos falar um pouco de você e de como o cinema entrou na sua vida. Andrucha ¿ Tudo começou nas brincadeiras de mímica em Teresópolis, onde tinha sempre uns 15 adolescentes passando férias. Gostava de ver as pessoas representando. Com 12 anos fiz um curso de fotografia na ABAF e com 13 fazia uns bicos como fotógrafo. Com 15, fui filmar um casamento, esqueci a fita VHS e fingi que tava filmando tudo! Fiquei envergonhadíssimo! Com 16, entrei numa de fazer um curta em 16mm chamado Ternos palhaços, uma metáfora da Constituinte, um filme lamentável. O Estação Botafogo cedeu a sala num sábado de manhã, convidei umas pessoas, foi aquele constrangimento, nem minha mãe gostou. Fiz então um curso rápido de cinema na Laura Alvim, com Johnny Howard, e me chamaram pra montar a TV Búzios. Era uma TV avacalhada: a gente era retransmissora da TVE e, na época das Olimpíadas, fingia que tava entrando direto de lá e botava no ar o sinal da Globo. Com o tempo, passamos a ter uma programação própria, gravando os programas lá e editando no Rio, todo fim de semana. Quando Cacá começou a filmar Dias melhores virão apareceu uma oportunidade de ser estagiário ¿ varrer chão, fazer cafezinho, puxando cadeira pra ator ¿ e participei da pré-produção ao final da filmagem, quando então passei a trabalhar na edição de som e participei da mixagem do filme.

Ziraldo ¿ Esse foi seu verdadeiro curso! Andrucha ¿ Bem, meu primeiro ano de faculdade. Depois fui assistente de produção em A grande arte, do Walter Salles, e trabalhei em Brincando nos campos do Senhor, do Hector Babenco. Passamos oito meses filmando em Belém.

Ziraldo ¿ Como é que você arranjava tanto emprego? Andrucha ¿ Me enturmei. O primeiro cara com quem me acolhei foi Jorge Saldanha, que no primeiro dia de filmagem me falou: ¿Vou ensinar um segredo pra você não se ferrar no cinema. Conquiste rapidamente seus inimigos¿. É muito ruim ter inimigo, né? Eu discordo das pessoas, mas sempre de uma maneira bacana. Bem, quando veio a cagada do Collor, fui me meter em publicidade. Comecei como assistente de direção do Waltinho e passei a produtor-executivo. Fiz um documentário com Caetano ¿ aquele dos 50 anos ¿, um com João Gilberto & Tom Jobim e outras coisas. Quando quis dirigir publicidade, todo mundo falou: ¿Esquece, você vem do cinema, publicidade não é a mesma coisa¿. Tudo bem, fiz assim mesmo. Quando voltou a Lei do Incentivo pensei em montar meus projetos de cinema. Aí todo mundo veio falar: ¿Esquece, você é publicitário, não vai conseguir fazer cinema¿.

Ziraldo ¿ Quando é que pintou a Conspiração Filmes? Andrucha ¿ José Henrique Fonseca (filho do Rubem), Cláudio Torres (filho do Fernando e hoje meu cunhado), Lula Buarque de Holanda (filho da Heloísa) e Artur Fontes se reuniram em 1990 pra fundar a Conspiração. Fiz um trabalho lá com Daniela Thomas e José Henrique Fonseca, mas quando comecei a querer dirigir, vi que ali, já tendo quatro diretores, não tinha espaço e fui pra São Paulo. Em 1994, quando entrou Pedro Buarque de Holanda, resolveram me chamar. Em 1996, entrou Leonardo Monteiro de Barros. Em 1997, entrou Breno Silveira, depois Fábio Soares, Carolina Jabour, Pedro Guimarães... Hoje somos 16 sócios: dez diretores, cinco produtores e o Banco Icatu, que tem 20% da empresa.

Renato ¿ Você conseguiu acabar com essa imagem de publicitário? Andrucha ¿ Com Casa de areia deve acabar, né? Mas acho uma loucura dizerem que faço filmes publicitários. Gêmeas era soturno, com planos longos. Se eu fizesse um comercial com aquela cara não seria aprovado nunca. Quando perguntam qual é minha profissão digo que sou operário do audiovisual. Faço publicidade, cinema, documentário, videoclipe, fico a serviço do suporte que uso no momento. Não adianta fazer um filme pensando que é publicidade ou publicidade pensando que é arte. Então faço de tudo, só não faço casamento porque depois daquele, aos 16 anos, fiquei traumatizado.

Ricky ¿ Mas, apesar do trauma, você já se casou três vezes. Andrucha¿ É, morei com Isabel Diegues durante quatro anos, dos 16 aos 20. Fiquei um ano separado, casei com Kiti Duarte e, em quatro anos, tivemos dois filhos: João e Pedro. Me separei aos 25 e, com 26, casei com a Nanda, com quem tô há nove anos. Tenho um filho com ela, que é o Joaquim.

Ricky ¿ Você tem três casamentos e três longas. Pra fazer o quarto filme, vai partir prum quarto casamento? Andrucha ¿ Não, prefiro fazer outro filho.

Ziraldo ¿ Quais são os seus planos agora? Andrucha ¿ Cuidar do lançamento do filme. Amo fazer filmes, mas lançar filmes é um desespero. É como se fosse um filho que não depende mais de você, mas que você tem que ficar protegendo. O cara dá um pancada nele, você logo vai questionar, e faz questão de mostrar o filme pra ver se cativa o coração de quem goste... Mas faz parte, sem isso fica um trabalho incompleto. Hoje, um filme, pra levar as pessoas ao cinema, tem que virar um evento.

Maria Lucia Dahl ¿ Então você tem que cuidar do roteiro, captar recursos, dirigir o filme e ainda cuidar do lançamento e da distribuição? Andrucha ¿ Mas isso é bom. Cinema é maravilhoso porque quando você cansa de uma etapa, vai pra outra. Casa de areia levou ao todo cinco anos pra ser feito.

Ricky ¿ Você pode adiantar alguma coisa do seu próximo filme? Andrucha ¿ É Os penetras, com Rodrigo Santoro e Selton Mello. O filme se passa na virada de 2006 para 2007 e será lançado na virada de 2006 pra 2007. Começo a filmar no réveillon de 2005 pra 2006. São dois jovens. Beto, um ator de teatro malsucedido que faz teatro de marionete em shopping, um cara bacana, digno, honesto, quase ingênuo. E Marco, um guia de turismo, morador da Tijuca, mau-caráter, com o pior do malandro carioca. Na primeira cena, o Marco tá comendo a mulher que acabou de dar o pé na bunda do Beto. Eles não se conhecem. Ela deixa ele na porta de uma festa, onde vai penetrar, e aí os dois se encontram, porque um ajuda o outro a entrar nessa festa. Formam um dupla e ficam 96 horas sem conseguir ir pra casa. Vão de festa em festa. Beto ajuda Marco a guiar os turistas, são assaltados, presos, perdem dinheiro, comem mulheres, tomam porrada dos viados... Já estou trabalhando nessa idéia há dois anos e meio.

Paula Sack ¿ Os jovens tão entrando com força no cinema nacional, até pela facilidade tecnológica de fazer cinema, mas Bruno Barreto declarou que já tem cineasta demais. Andrucha ¿ Falou que tem cineastas demais e que deveriam estar dirigindo táxis. A melhor declaração sobre isso foi da Nanda: ¿Pô, Bruno, por que então você não dirige um táxi?¿. Mas a possibilidade de fazer cinema com duas mariolas sempre existiu. Vidas secas tinha uma equipe de seis pessoas. O cinema brasileiro é plural, vai de Júlio Bressane a Xuxa, do Walter Lima ao Walter Salles, e por não ser um cinema de mercado tem uma liberdade que não existe em outros lugares do mundo.

Fernando ¿ Existe o filme médio no Brasil, aquele que vai direto pra locadora? Andrucha¿ Ainda não é um hábito. Os outros bárbaros não foi feito pra ser lançado em cinema e foi direto pro DVD. Agora, se eu tivesse feito pensando em lançar nos cinemas seria uma grande frustração. Tem que se garantir a distribuição de todos os filmes? Não necessariamente, mas deveria existir um apoio maior à distribuição independente. As majors têm capital pra investir nisso, podem abater isso em impostos sobre a remessa de lucros, mas as independentes não têm esse mecanismo. Não adianta ter produção e não ter distribuição.

Renato¿ Você falou isso pro Zé Dirceu? Andrucha ¿ No encontro de José Dirceu com os artistas não se falou de cultura! Tentei falar e tomei um corte. É óbvio que a prioridade é o social, mas só por algumas coisas serem urgentíssimas não significa que não há outras importantes.

Ricky ¿ Sem falar que a cultura permeia todos os outros ministérios. Andrucha ¿ Gláucia Camargo disse uma coisa maravilhosa: ¿Vocês falam tanto na Petrobras, deveriam perceber que a cultura é uma energia tão forte quanto o petróleo. Mesmo nos casos em que não se transforma em dinheiro, se transforma em auto-estima. Um país sem cultura é um país sem identidade¿. Uma grande questão pra mim são as fundações culturais dos bancos, as instituições que mais ganham dinheiro neste país. Eles têm suas fundações, constroem seus prédios, botam seus nomes, pagam os funcionários das fundações, tudo com dinheiro das leis de incentivo. Os acervos que compram com este dinheiro pertencem às fundações que, por sua vez, pertencem aos bancos. Tudo bem. Querem ter uma fundação? Pra cada real utilizado na fundação, outros dois teriam que ir para um projeto cultural fora da fundação. As fundações não podem ser canalizadores exclusivos do lucro, que deixou de ser pago como imposto.

Ricky ¿ Então você é a favor da controversa contrapartida social? Andrucha ¿ Aí é que tá. Pedir contrapartida prum ator de teatro fazer peça a R$ 1 é sacanagem. O que tem pra vender é seu próprio trabalho. Agora, uma empresa que tem um lucro absurdo não ter a obrigação de investir na cultura alheia? Essa contrapartida é óbvia. Era isso que eu queria falar na reunião, mas, na verdade, aquilo era mais uma prestação de contas do que estava acontecendo com o país. A gente ficou só ouvindo. Quero esclarecer que não sou contra as fundações, o mecanismo dos patrocinadores inventado no Brasil dá as opções de o artista ir a vários guichês, ao invés da calamidade disto ficar concentrado só no Ministério da Cultura.

Renato ¿ Como a Embrafilme. Andrucha ¿ Tem que ter um órgão no MinC pra filmes de arte e de baixo orçamento. O Prêmio Ancine pra pós-produção é bacana. Mas, quanto mais possibilidades de financiamento pra Cultura mais plural ela será.