Título: Brasilienses vão à luta
Autor: Kelly Oliveira
Fonte: Jornal do Brasil, 22/05/2005, Brasília, p. D3

Desemprego não assusta pequenos empreendedores que apostam na criatividade para driblar crise

Para fugir do desemprego, alguns brasilienses apostam na criatividade. Kombis antigas, que não podem mais trafegar pelas ruas, são transformadas em ateliês de costura, oficina mecânica, loja de doces, queijos e biscoitos, entre outros ''estabelecimentos comerciais'' informais, que se espalham pelos estacionamentos da cidade. A costureira Ana Maria Bispo de Oliveira Silva, 55 anos, conta que montou seu ateliê em uma kombi há 13 anos, na quadra 212 Sul.

- Desde que comprei a kombi, ela nunca saiu daqui - afirma.

Ana mora em Santa Maria e trabalha das 9h às 17hs, de segunda a sexta-feira. Ela conta que conseguiu comprar a kombi com dinheiro que recebeu de herança.

- Tenho clientes que sempre vêm aqui. Já me conhecem - afirma.

O empreendedor informal Otávio Bezerra de Oliveira, 43 anos, também comprou uma kombi para investir nos negócios. Ele trabalha, desde os 15 anos, como vendedor de biscoitos, doces e queijos, nas quadras das asas Sul e Norte. Os produtos que Otávio Bezerra vende também são fabricados por pequenos produtores informais.

- São produtos de fundo de quintal de Ceilândia e Vicente Pires - informa Otávio.

Ele conta que desconhece os passos para abrir uma empresa e formalizar seu pequeno negócio.

- É sempre muito difícil para o pequeno empresário. Não saberia como abrir uma empresa - afirma.

Os sócios de uma oficina mecânica, com peças e equipamentos instalados em uma Kombi, Jalmir Barbosa, 40 anos, e José Reis, 49 anos, já foram empregados no setor de comércio e serviços. Mas quando foram demitidos, há 20 anos, a opção encontrada foi trabalhar por conta própria. Eles atendem de três a quatro clientes, por dia, em um estacionamento do Setor de Rádio e TV Sul.

- As pessoas já estão acostumadas a virem consertar os carros aqui. Os impostos de uma empresa formal são muito altos. Seria difícil pagar - afirma Barbosa.