Título: Risco de queimadas preocupa
Autor: Guilherme Queiroz
Fonte: Jornal do Brasil, 22/05/2005, Brasília, p. D4

Plano de Prevenção prevê reduzir incêndios com programas educativos para a população das zonas rurais e urbanas

O castigo imposto ao Cerrado pelos incêndios florestais no ano passado, quando arderam em chamas 8,4% das reservas ecológicas do DF, deixou uma dura lição para os órgãos responsáveis pela preservação da bioma. Felizmente, o dever de casa está sendo feito. A estiagem mal começou e 18 órgãos e representações das principais unidades de conservação, federais e locais, já estão tirando do papel as primeiras iniciativas para reduzir a incidência das queimadas no DF. A começar pela conscientização da população, seja no meio rural, seja nas cidades.

Os números de 2004 justificam a antecipação. Ao todo, 4.348 hectares de cerrado foram consumidos por incêndios, apenas nas cinco unidades de conservação, todas monitoradas 24 horas por dia durante a estiagem. O número corresponde a 8,4% dos 51,2 mil hectares protegidos integralmente no DF, mas não levam em conta outros tantos milhares devastados por incêndios no ano passado (ver tabela).

Na Chapada Imperial, próximo a Brazlândia, por exemplo, foram destruídos mais de 2 mil hectares de cerrado em apenas dois dias.

Para que o cenário de 2004 não se repita em 2005, o grupo executivo responsável pelo Plano de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais começou a se reunir, ainda em abril, para planejar as ações deste ano. O Ibama e a Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Semarh) coletaram imagens de satélite, registrando os focos de incêndio, para direcionar os trabalhos de prevenção nas áreas de maior incidência. Para se ter uma idéia, em 2003 o Corpo de Bombeiros registrou 2.813 focos e, em 2004, 2.400 em todo DF.

- No ano passado tivemos o problema com a hantavirose. Muitos agricultores acreditavam que, se queimassem o lixo e o mato, espantariam o rato silvestre. Isso, além de não ser verdade, provocou incêndios terríveis - relata a coordenadora do Plano de Prevencão e Combate a Incêndios Florestais pela Semarh, Irene Mesquita.

Para conscientizar os agricultores, o Sistema Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais do Ibama (Prevfogo) distribuirá cartilhas educativas, por intermédio da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater). Segundo o coordenador do Prevfogo no DF, Guilherme de Almeida, as propriedades rurais vizinhas às unidades de conservação começarão a ser cadastrados pelo Ibama, a partir de junho. Os agricultores também serão convidados, em agosto, para um seminário sobre os perigos das queimadas.

- A idéia é termos as diretrizes e os mecanismos de prevenção definidos para eliminar as queimadas causadas, seja de forma negligente ou criminosa, pelas mãos do homem, e atuarmos apenas nos casos inevitáveis - pondera Almeida.

Segundo o tenente Cley Cristiano Xavier, do 4ª Batalhão contra Incêndio dos Corpos de Bombeiros, cerca de 85% dos incêndios florestais são causados pelas pessoas. A maioria, relata, surge nas margens de estradas e se alastram para dentro das unidades de conservação. A segundo causa, de acordo com Xavier, são as queimadas agrícolas que fogem de controle, principalmente devido à ação do vento, que transporta material em combustão além das barreiras físicas.

- Às vezes, o agricultor pensa que a pista servirá como um aceiro natural, mas o vento é naturalmente forte na estação da seca. E os efeitos acabam sendo devastadores - elucida o tenente.

As principais unidades de conservação começam a se preparar para a época da seca. Em março, o Jardim Botânico recebeu uma torre de observação com 45 metros de altura, de onde é possível localizar focos em 95% do parque e das três unidades vizinhas - Estação Ecológica do IBGE, Fazenda Água Limpa (FAL) e APA Gama-Cabeça de Veado.

O Parque Nacional também iniciou a contratação dos 48 brigadistas que farão o monitoramento da unidade até novembro.

A Semarh abriu curso para capacitar 30 fiscais de seu quadro para o combate a incêndios florestais.

- Vamos avaliar quais unidades de conservação foram as mais afetadas e distribuir o pessoal treinado para auxiliar na prevenção e no combate aos focos de incêndio - explica Irene Mesquita.