Título: Operação Deus nos acuda evolui e soma 25 desistências
Autor: Sérgio Pardellas
Fonte: Jornal do Brasil, 23/05/2005, País, p. A4

Parlamentares devem anunciar retirada de assinaturas a favor da CPI de uma vez só

A Operação Deus nos Acuda, deflagrada pelo governo na última quarta-feira para tentar a todo e qualquer custo barrar a CPI no Congresso a fim de investigar o pagamento de propina nos Correios, evoluiu durante o fim de semana e os resultados já começam a aparecer ao menos na seara política. Apesar do novo escândalo detonado pela revista Veja desta semana envolvendo o PTB e o Instituto de Resseguros do Brasil (IRB), até o fim da tarde de ontem o governo já contabilizava pelo menos 25 desistências de PT, PC do B, PMDB, PTB, PSB e PL. A orientação palaciana, porém, é para que nenhum parlamentar oficialize a decisão neste momento evitando uma exposição negativa dos aliados na mídia. A idéia é para que todos os parlamentares anunciem a retirada de suas assinaturas de uma vez só, caso o governo consiga enterrar de vez a CPI da propina. - Fizemos um pacto. Ninguém anuncia nada agora para evitar o desgaste na imprensa. Imagine se todo dia desistem uns 10. Serão queimados em praça pública. Se for em conjunto, isso não vai ocorrer. Por isso estamos contando as desistências informais - afirmou um assessor político do governo.

Para evitar a instalação da CPI restariam a desistência de mais 25 nomes até quarta-feira, quando o presidente do Congresso, Renan Calheiros (PMDB-AL), promete ler o requerimento pedindo a abertura do inquérito no Congresso. O requerimento de CPI para investigar o esquema de corrupção nos Correios foi protocolado na tarde da última quarta-feira. Até a leitura do requerimento na sessão do Congresso, os parlamentares podem retirar suas assinaturas. A instalação da CPI também depende da indicação dos representantes de cada partido, competência dos líderes de bancada.

Participam da operação anti-CPI os ministros José Dirceu (Casa Civil), Paulo Bernardo (Planejamento), Eunício Oliveira (Comunicações), Ciro Gomes (Integração Nacional), Eduardo Campos (Ciência e Tecnologia) e Luiz Gushiken (Secretaria de Comunicação e Gestão Estratégica). Além dos líderes, José Múcio (PTB), Sandro Mabel (PL), José Janene (PP), Renato Casagrande (PSB), José Borba (PMDB) e Paulo Rocha (PT).

O primeiro passo para abortar a abertura do inquérito parlamentar no Congresso foi dado anteontem, quando o Diretório Nacional do PT aprovou em São Paulo uma resolução do Campo Majoritário orientando os deputados e senadores do PT para que não endossassem a convocação da CPI dos Correios. O documento foi aprovado por 47 votos, contra 19 da Articulação de Esquerda, 2 de O Trabalho. Houve duas abstenções.

Embora tenha reconhecido que a oposição tem direito legítimo de propor a instalação de CPIs, o Campo Majoritário entendeu que uma comissão de investigação seria desnecessário na atual circunstância.

Embora uma atmosfera de otimismo tenha tomado conta do governo nas últimas horas, o Planalto trabalha com um plano B caso a CPI seja instalada. Para evitar que as investigações saiam do controle, no final da última semana o governo convidou o ex-presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP) para assumir uma eventual relatoria do caso. O deputado ficou de examinar a proposta. O Planalto também pretende se valer da maioria proporcional do PT na Casa para indicar a cargos-chaves numa eventual CPI, parlamentares de sua estrita confiança.

O deputado João Paulo Cunha é um dos personagens centrais da crise que se arrasta no Congresso desde o início do ano. De candidato à reeleição à presidência da Câmara, o petista, pré-candidato ao governo de São Paulo, foi relegado ao ostracismo depois do triunfo de Severino Cavalcanti (PP-PE). Desde então, passou a trabalhar nos bastidores para assumir a Coordenação Política do governo, no lugar do atual ministro Aldo Rebelo (PCdoB). Até agora, em vão.

Recentemente em declarações à imprensa, João Paulo disse que o governo estaria ''ilhado na Câmara'', atribuindo as recentes tensões políticas na Casa as falhas na articulação política do Planalto cuja gênese, em sua avaliação, seria a derrota da emenda que permitiria a sua reeleição.