Título: Chávez planeja programa nuclear
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Fonte: Jornal do Brasil, 23/05/2005, Internacional, p. A8

Presidente venezuelano garante que projeto terá fins pacíficos e afirma que vai pedir ajuda ao Irã

CARACAS - Em mais uma medida polêmica, o presidente venezuelano, Hugo Chávez, anunciou ontem o interesse de seu governo em desenvolver energia nuclear e afirmou que pretende manter conversações com ''parceiros iranianos'' para estudar possíveis projetos de energia atômica e solar.

Chávez, um ferrenho crítico de Washington, destacou que os EUA ''possuem milhares de bombas atômicas'' e que inclusive usaram duas contra o Japão na II Guerra Mundial, mas afirmou que seu empenho tem outro objetivo: ''O desenvolvimento, a vida e a paz''.

- O plano não será fazer bombas, lançá-las em uma cidade e acabar com milhares de pessoas - atacou. - O que acontece é que cada ladrão julga de acordo com sua condição.

O presidente venezuelano, que citou os programas nucleares do Brasil, da Argentina e do México, defendeu ainda que outros países da América Latina desenvolvam tal energia como fonte alternativa para fins pacíficos. Nas declarações, o governante pediu ao ministro de Minas e Energia Rafael Ramírez e ao chanceler Alí Rodríguez que iniciassem imediatamente o projeto.

- Temos que começar a trabalhar nessa área. Poderíamos iniciar investigações e pedir ajuda a países como o Irã - disse Chávez em seu programa de TV. - Este é um dos caminhos para diversificar a fonte energética - acrescentou, advertindo sobre o risco de o mundo sucumbir a uma crise energética estrutural devido ao ''desespero por petróleo''.

A Venezuela, o quinto maior exportador de petróleo do mundo, é um dos principais fornecedores dos EUA, mas as relações entre Caracas e Washington estremeceram desde que Chávez assumiu o poder, há seis anos. Para piorar, ele apoiou o governo de Teerã, incluído pelos EUA no chamado ''eixo do mal''. O governo americano acusa o Irã de produzir secretamente armas nucleares através de seu programa atômico, que Teerã afirma ter fins pacíficos.

- Tenho certeza de que o governo iraniano não está produzindo nenhuma bomba atômica - disse Chávez, que em março recebeu em Caracas o presidente Mohamad Khatami. - Simplesmente os Estados Unidos buscam qualquer desculpa para investir contra os que países que lhes convém.

Em outro ataque à Casa Branca, Chávez afirmou que seu país romperá relações diplomáticas com os EUA, caso não extraditem à Venezuela ''o assassino e terrorista'' Luis Posada Carriles, detido terça-feira em Miami.

- Para que embaixadas num país que descaradamente protege o terrorismo internacional? - indagou.

Posada, que é cubano e tem cidadania venezuelana, é acusado pela explosão de um avião cubano em 1976, que deixou 73 mortos. Ele passou nove anos preso na Venezuela, de onde fugiu em 1985, quando aguardava uma sentença definitiva.