Título: A corrupção mora ao lado
Autor: Cristiane Crelier
Fonte: Jornal do Brasil, 23/05/2005, Economia & Negócios, p. A18

Mais de 50% dos casos são cometidos por empregados aliciados por gente de fora

Mais de 50% dos casos de corrupção são cometidos por empregados aliciados por gente de fora da empresa. Muitas vezes eles são aliciados para aplicar um roubo, mas também é crescente o número de casos de funcionários que são contratados por empresas concorrentes para causar prejuízos, financeiros ou de imagem. Os dados são da BJ Assessoria, empresa especializada em investigação empresarial. Cada vez mais as grandes empresas estão procurando manter investigadores permanentes para prevenir fraudes ou, pelo menos, reduzir a evasão de grandes cifras. De acordo com a ACFE (Association of Certified Fraud Examiners), que produziu um estudo relativo a 663 dos chamados crimes do colarinho branco, a média de dinheiro desviado a cada golpe é de US$ 250 mil. Só nos EUA, golpes como maquiagem de resultados, desvio de recursos e pagamento de propinas chegam a US$ 600 bilhões por ano, o que equivale a US$ 4,5 mil para cada trabalhador americano.

- As auditorias não são capazes de detectar a maioria das fraudes. Até porque o funcionário que comete os crimes, geralmente, conhece bem a mecânica da empresa. Principalmente se for um executivo, que não só sabe quando a auditoria vai ocorrer, como também tem tempo para limpar o terreno - comenta Bechara Jalkh, da BJ Assessoria.

- Como o envolvimento da polícia em assuntos como este, acaba gerando muitos problemas para a empresa, o ideal para a empresa é resolver o assunto rápida e discretamente. O estelionatário, quando descoberto, nem é demitido por justa causa. Com a polícia no caso, por outro lado, não só policiais passam a circular dentro da corporação, como também surgem fiscalizações e corruptos oportunistas - acrescenta.

Jalkh afirma que nas empresas onde não há investigação permanente é importante que o empresário fique atento a qualquer mínimo sinal de coisas incomuns acontecendo.

- Fraudes são crimes de oportunidade. Quando houver desconfiança, é importante apurar. Se um executivo muda de setor ou passa a dar muita atenção a determinada área da empresa, isso pode ser um sinal. Há muitos casos de fraudes que passam pelo setor de compras. Nesse caso, as notas fiscais devem ser estudadas. Muitas vezes o estelionatário abre firmas em nome de laranjas e compra produtos para a empresa em nome de empresas-fantasmas - alerta.

O perito Marcelo Alcides Carvalho Gomes, da GBE Peritos, enumera outras atitudes preventivas, como a atenção no sistema de controle da empresa e a distribuição de manuais de conduta e ética profissional para os funcionários. Para investigar a corrupção, sem interferir na privacidade do funcionário, ele aconselha observar, por exemplo, o uso de senhas em computadores.

- Muitas vezes o fraudador faz-se passar por outra pessoa e utiliza computadores alheios. Uma saída é manter contato com os fornecedores - diz.