Título: "Os percalços que sofri foram úteis'"
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Fonte: Jornal do Brasil, 23/05/2005, Brasília, p. D4

Entrevista : José Roberto Arruda

A agenda do deputado federal e pré-candidato ao GDF José Roberto Arruda (PFL) anda lotada ¿ os compromissos políticos chegam a ocupar 14 horas do dia do parlamentar. No entanto, Arruda garante que a condição básica para se oficializar na disputa será ter como grande apoiador o governador Joaquim Roriz, o cabo eleitoral mais disputado para as eleições de 2006. Além do apoio, Arruda acredita ser fundamental trazer Roriz na composição de uma chapa majoritária, concorrendo ao Senado Federal. ¿Uma candidatura a deputado, por exemplo, enfraqueceria o candidato a governador¿, avalia o deputado. Com um discurso reforçado na união, o pefelista preferiu não comentar a postura dos colegas de partido na Câmara Legislativa, que vivem uma evidente crise com Roriz, apesar de ter assinado um manifesto repudiando a atitude dos colegas ¿ ¿quem sou eu para julgar?¿, justificou o homem que há quatro anos esteve sob os holofotes da mídia por envolvimento na violação do painel do Senado, na aprovação da cassação do então senador Luiz Estêvão. Arruda, que encabeça pesquisas de opinião para o Palácio do Buriti, sabe que este pode ser um forte mote para os adversários em uma eventual campanha a governador. Mas garante estar preparado para os ataques: ¿discuto esse tema com dignidade, assumindo o erro que cometi¿.

¿ Há uma divisão no PFL-DF atualmente entre um grupo que apoia o senador Paulo Octávio como pré-candidato ao GDF e uma outra parte, que apoia o senhor. Qual a sua avaliação sobre essa situação? Prejudica o partido? ¿ Partidos grandes e bem estruturados normalmente têm postulações distintas ao mesmo cargo. Isso acontece por exemplo no PT de Brasília, com excelentes nomes e nem por isso deixa de ter discussão interna legítima. Graças a Deus isso também acontece no PFL. Porque muito pior é não ter nenhum nome. Acho isso absolutamente natural em um regime democrático. Vejo com bons olhos. As preferências são legítimas, mas não tenho dúvida de que lá na frente, não apenas o PFL, mas todos os partidos que apóiam Joaquim Roriz deverão estar unidos em uma única candidatura.

¿ Existe um acordo para que o pefelista com melhor desempenho nas pesquisas seja o escolhido para a disputa ao Palácio do Buriti. Mas o senhor acredita que será o apoio do governador o ponto decisivo na escolha do candidato? ¿ O apoio dele será decisivo não apenas na questão partidária, mas na união de todo o grupo. Não me vejo candidato sem o apoio dele. Sobre o acordo com o Bornhausen [senador Jorge Bornhausen, presidente nacional do PFL], não há razão para que ele não seja observado sem problemas.

¿ O senhor se manterá no partido caso não seja o escolhido, dentro destas condições? ¿ Fiz um acordo e acordos devem ser cumpridos. Mantidas as condições de igualdade, a candidatura deve ser a que se somar mais, que se manter mais oportuna. Só vejo uma condição para ter sucesso nesta eleição: estarmos unidos. Acho fundamental também que o governador seja candidato ao Senado. Ressalvando a hipótese de Roriz compor uma chapa majoritária nacional, que aí é outro quadro, a candidatura dele ao Senado é essencial. Porque isso é manifestamente a postura de quem acredita na vitória da chapa majoritária. Uma candidatura a deputado, por exemplo, enfraqueceria o seu candidato a governador. Mas mais importante que essa discussão política são duas outras questões: saber o que cada um de nós pode fazer por Brasília e como vemos o futuro da cidade. Esta discussão acaba tendo pouco espaço. Tenho tido uma postura muito discreta. Nestes dois anos, praticamente não tive chance de aparecer na televisão, nem nos rádios. Pela primeira vez agora, no aniversário de Brasília eu fiz uns outdoors muito simples, sem fotografia, para mostrar que estou vivo e gosto da cidade. Tenho aparecido pouco na mídia, por isso fico feliz com este resultado de pesquisa. Aumenta a minha responsabilidade. Por circunstâncias, outros nomes têm aparecido muito mais.

¿ Na semana passada o JB publicou uma pesquisa na qual seu nome aparece na frente. Essa boa posição, a um ano e meio das eleições, pode torná-lo mais vulnerável a ataques dos adversário? ¿ Tenho um bom diálogo com todos eles, inclusive com Paulo Octávio, que é um homem educado. Tudo na vida tem vantagens e riscos. Aparecer bem nas pesquisas cedo demais é um risco, eu sei. Mas é melhor do que não aparecer! Eu me preocupo sim, tanto que tenho procurado uma postura mais discreta. Inclusive em relação à imprensa. Há quanto tempo o JB pede essa entrevista? Tenho evitado porque acho que tenho pouca coisa para falar. O momento é mais de ouvir, perceber as possíveis alianças, a esperança da população.

¿ O senhor acredita que não há espaço para uma terceira via no DF? ¿ Aqui existe uma polarização natural. Muitas das coisas que justificaram no passado eu mesmo liderar uma terceira via, Roriz acabou fazendo. Um exemplo: Um dos discursos que eu fazia em 98 para ter um governo diferente do Roriz e do PT, era um programa de desenvolvimento econômico, o Pró-DF. Roriz foi eleito, pegou a idéia e fez. Tenho que aplaudir. Mesma coisa com a modernização do sistema viário, outra batalha que eu tinha. Então, acho que com o êxito do governo Roriz e a presença do Lula na presidência da República é inevitável que haja polarização.

¿ Por que ser candidato neste próximo pleito? ¿ As pessoas amadurecem. Vendo minha trajetória sob a ótica de hoje, acho que que os percalços que sofri, as quedas, as lições, foram muito úteis. Eu me considero um homem mais maduro, mais sensato, mais capaz de assumir desafios, mais humilde, principalmente. Sem aquela idéia de achar que sou capaz de fazer tudo sozinho. Ninguém é. Aprendi isso. Agora, o que vai determinar se é realmente o momento ou não será a circunstância política, a capacidade de aglutinar forças. Cada uma das pessoas que estão sendo lembradas têm contribuições muito importantes para Brasília. Se a gente somar tudo isso e gerar uma contribuição coletiva, teremos condições de fazer um projeto de futuro. Se dividirmos, pode-se até ganhar a eleição, mas será um governo talvez menor do que aquele que fosse resultado de uma união completa. Eu vim para Brasília com 20 anos. Acho que a nossa geração tem um desafio que muita gente não percebeu: primeiro, manter a capital funcionando bem e, segundo, consolidar Brasília como capital. O Rio ainda tem hoje o dobro de servidores públicos federais em relação a Brasília. Chegou a hora de fazer a mudança definitiva da capital que ainda não se deu. Segundo desafio: Juscelino construiu Brasília para ter uma cidade bonitinha, com cara de capital? Não. Para ser pólo indutor do desenvolvimento econômico do Centro-Oeste. E isso ainda não se realizou. É preciso que existam políticas públicas de desenvolvimento regional, principalmente no setor da agroindústria, no eixo do desenvolvimento Brasília-Anápolis-Goiânia, na conclusão da Belém-Brasília.

¿ Quem seria seu vice? ¿ Quem vai coordenar o processo político é o governador. Isso vai nascer de uma grande discussão. Tanto o nome do eventual candidato a governador quanto o nome do seu vice deve surgir dessa discussão. A gente sonha, mas sonho a gente não conta nem para o pijama.

¿ Em uma suposta candidatura ao governo, como superar os eventuais ataques relacionados ao episódio da violação do painel do Senado, em 2001? ¿ Da mesma maneira que fiz na última eleição. A gente não esconde as coisas boas nem as ruins que fez. Esse foi um erro que cometi. Se acontecesse 100 vezes a mesma situação, eu agiria 100 vezes de maneira diferente. Não devia ter olhado aquela lista, nem depois escondido que olhei. A primeira coisa que fiz quando cheguei na Câmara foi apresentar um projeto de lei para que o voto de deputado e senador seja sempre aberto. Não quero com esse projeto justificar o erro que cometi. Mas quero dar uma contribuição efetiva ao aprimoramento da democracia. Deputado e senador devem votar aberto. Que democracia é essa, que o eleitor não pode saber como o seu deputado, o seu senador votaram em matérias importantes aqui no Congresso? O projeto foi aprovado na Comissão de Justiça, na Comissão Especial e está pronto para ir a plenário. Se um dia eu conseguir que Câmara e Senado acabem com o voto secreto, minha missão política estará concluída. É a maior contribuição que posso dar ao meu país. Eu estou absolutamente preparado psicológica e politicamente para enfrentar cara a cara o erro que cometi. Discuto esse tema com dignidade. Aprendi muito, foi o momento mais difícil da minha vida. Foi quando fiquei sabendo quem eram os meus verdadeiros amigos.

¿ Então para o senhor isso já está superado? ¿ Eu superei. Já até escolhi a música da campanha. Vai ser o melô do Arruda. É aquela que fala: ¿levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima¿.

¿ O que o senhor tirou politicamente desse episódio? ¿ Fui candidato a um cargo mais baixo do que já tinha e desejava muito ser eleito para poder recomeçar a minha vida. Achava que por tudo que eu tinha feito na vida, era injusto sair da vida pública daquela maneira. Nunca esperava ter a votação que tive. Como o mais votado da história tinha tido 90 mil votos, eu pensei `se tiver 91 mil, vou ser o cara mais feliz do mundo¿. Tive mais voto para deputado federal do que tinha tido para senador. Acho que a sociedade, majoritariamente, me compreendeu.

¿ No passado, houve algumas divergências entre o senhor e Roriz. Como foi resolvido? ¿ Em 1998 nós concorremos em uma eleição ¿ ele era candidato a governador e eu também ¿ ele pelo PMDB e eu pelo PSDB. Mas nunca houve ataque, nó sempre tivemos uma convivência pessoal muito boa. O que me levou à campanha de 1998, na verdade, não foi nada específico com Roriz. Foram circunstâncias de outros companheiros que exigiam a minha candidatura.

¿ Como pode ser resolvida a crise da bancada governista na Câmara Legislativa? ¿ Toda crise política se resolve com diálogo, compreensão, entendimento. É isso que o governador está tentando e os parlamentares também estão dando a sua contribuição. Desejo que todas as eventuais dificuldades sejam superadas e que toda a bancada se coloque efetivamente na base de sustentação do governo, porque o PFL, como partido, tomou uma decisão politico-partidária de apoiar o governo.

¿ Como o senhor avalia a postura dos distritais pefelistas? ¿ É uma outra esfera de ação parlamentar. Devemos ter respeito mútuo, não estou aqui para julgar.

¿ Mas sua assinatura consta no manifesto de repúdio do PFL às ações do grupo... ¿ Devemos procurar daqui para frente uma postura compatível como um partido que é da base de sustentação e que ocupa cargos no governo.

¿ O grupo está alinhado a Paulo Octávio, e muitos acreditam que por questões políticas poderia haver essa divergência. Como o senhor avalia isso? ¿ Espero que todos nós possamos estar juntos.

¿ Como o senhor vê a relação do GDF com o governo federal? ¿ O GDF está dando uma lição de como ser hospedeiro do governo federal. O centro de convenções ficou pronto exatamente na data marcada para o congresso árabe-sul americano. Os sem-terras foram recebidos aqui com segurança, ordem e elegância. O governo federal deve estar muito grato por isso. A recíproca nem sempre é verdadeira. Eles têm dificultado muito a liberação das emendas da bancada de Brasília para o DF, coisa que não acontecia no passado.