Título: Deportação de políticos europeus delineia crise com a UE
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Fonte: Jornal do Brasil, 21/05/2005, Internacional, p. A7
Uma crise diplomática desenha-se entre Cuba e a União Européia, depois que Havana expulsou ou negou visto de entrada para 14 cidadãos europeus, inclusive eurodeputados, ex-senadores e um jornalista. Todos iriam assistir ou cobrir a Assembléia para a Promoção da Sociedade Civil, um congresso de dissidentes cubanos que ocorreu ontem na capital.
As mais recentes expulsas foram as ex-senadoras espanholas Rosa López Garnica, da União do Povo Navarro (UPN), e Isabel San Baldomero, do Partido Popular (PP), e o deputado catalão Jordi Xuclá. Os políticos haviam chegado a Havana na terça-feira e foram enviados de volta a Madri na quinta à noite.
O processo, sobre o qual o regime de Fidel Castro não deu qualquer justificativa, parecia ter sido rápido, porque não ninguém avisou à coordenação do congresso opositor que as ex-senadoras não iriam à reunião.
- Elas eram esperadas esta manhã, mas não apareceram - comentou a economista Marta Beatriz Roque.
Eram aguardados no encontro cerca de 300 delegados estrangeiros, entre eles os prêmios Nobel da Paz Václav Havel e Lech Walesa, que permaneceram em Cuba.
Com a deportação dos espanhóis, já somam sete os legisladores europeus que viajaram para assistir ao congresso e acabaram expulsos da ilha. Na terça, autoridades negaram o ingresso ao país dos eurodeputados poloneses Jacek Protasiewicz e Boguslaw Sonik, do Partido Plataforma. Na quinta, deportaram o senador tcheco Karel Schwarzenberg e o deputado alemão Arnold Vaatz.
Além dos políticos, Cuba expulsou ainda três jornalistas poloneses e dois tradutores que acompanhavam os eurodeputados poloneses. O outro cidadão do país foi identificado pela embaixada em Havana como ''um estudioso da situação dos direitos humanos na ilha''. Há ainda um repórter italiano, Francesco Battistini, que está preso e aguarda a deportação.
O caso - que ocorre poucas semanas depois da revisão do acordo adotado em janeiro pelos ministros de Assuntos Exteriores da UE de suspender temporariamente as sanções diplomáticas contra Cuba - provocou a ira no Velho Continente. A Comissão Européia classificou como ''inaceitável'' a exclusão dos eurodeputados.
- Não vai em absoluto na direção que tínhamos desejado e na qual a Comissão colocou todo seu peso político - justificou o porta-voz europeu de Desenvolvimento, Amadeu Altafaj, lembrando que a UE espera que Havana dê ''passos democratizadores''.
Mas as reações mais duras vieram da Itália e da Alemanha. O chanceler italiano Gianfranco Fini, convocou a embaixadora de Cuba, María de los Angeles Flórez Prida, para pedir explicações sobre a prisão de Battistini, que trabalha para o Corriere della Sera. No momento em que foi levado por policiais, o jornalista conseguiu enviar uma mensagem de celular para a redação do jornal em Milão, contando que será deportado. O ministério de Relações Exteriores alemão também convocou o embaixador de Cuba em Berlim, Marcelino Medina, para explicar as expulsões de Schwarzenberg e Vaatz.
- A atuação das autoridades de Havana é inaceitável - criticou o chanceler alemão Joschka Fischer. - É legítimo e está subentendido que os parlamentares europeus e alemães que visitam Cuba se encontrarão com grupos da oposição e de direitos humanos.
A oposição, no entanto, pleiteia medidas mais radicais. A União Democrata-Cristã (CDU) exigiu que Berlim corrija a política com relação à ilha. Vaatz é vice-presidente do grupo parlamentar da CDU.
- Está provado que o silêncio não funciona - afirmou o porta-voz para Política Externa da direitista CDU, Friedbert Pflüger. - Essas atitudes de cortesia com o regime castrista e o levantamento de sanções pelo Conselho Europeu de Exteriores foram entendidas por Havana como uma carta-branca para continuar restringindo a liberdade de opinião.
Em Madri, o secretário de Comunicação do PP, Gabriel Elorriaga, expressou a ''mais completa repulsa'' do partido a todas as expulsões ''ditadas pelo governo cubano''.
- A onda de repressão que está crescendo em Cuba é provocada pela mudança completamente equivocada que o governo espanhol, controlado pelo Partido Socialista, promoveu na política da UE para a ilha - criticou.