Título: Dissidentes fazem congresso inédito
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Fonte: Jornal do Brasil, 21/05/2005, Internacional, p. A7

Fidel não interfere na realização da assembléia, mas causa tumulto ao expulsar eurodeputados, ex-senadoras e jornalistas

HAVANA - Com gritos de ''liberdade'' e o hino nacional de Cuba, começou ontem em Havana um inédito congresso, organizado há anos por um influente grupo de dissidentes para definir uma transição para a ''democracia à maneira Ocidental''. Cerca de 200 pessoas estavam presentes no primeiro dia de reunião da Assembléia para a Promoção da Sociedade Civil (APSC), uma entidade opositora dirigida pela economista Marta Beatriz Roque.

Entre os observadores figuravam diplomatas estrangeiros, principalmente americanos, como o chefe da seção de interesses dos Estados Unidos em Cuba, James Cason. Mas alguns parlamentares europeus foram expulsos, sem explicação, pelo regime de Fidel Castro.

A única tentativa anterior de reunir a oposição ocorreu em 1996, com organização do Concilio Cubano, mas fracassou. A entidade desapareceu desde então.

Na segunda-feira, o presidente cubano criticou ''este encontro de mercenários'', como chama os dissidentes, afirmando que o congresso é financiado pelos EUA. A APSC, que reúne 360 organizações, contestou.

Roque, de 59 anos, foi presa em março de 2003 com outros 74 dissidentes, durante uma onda de repressão. Libertada por motivos de saúde em novembro, apesar de ter sido condenada a 20 anos de prisão, ela alertou que não sabia qual seria a reação de Fidel ao congresso. Mas afirmou que seu movimento estava pronto para ''assumir as conseqüências''.

- É uma ótima surpresa. Não acreditava que o regime fosse permitir a reunião - disse o veterano ativista Vladimiro Roca.

- A história de Cuba será dividida entre antes e depois deste 20 de maio. É um triunfo para toda a oposição, um ponto de partida para o trabalho futuro - comemorou Roque.

Vinte de maio, dia da proclamação da Independência em Cuba em 1902, é rejeitada como data pátria pelo governo de Fidel, mas celebrada pelos exilados. Nos últimos cinco anos, o presidente dos EUA, George Bush, tem enviado mensagens aos cubanos nesse dia. E ontem não foi diferente.

- A onda de liberdade se estende pelo mundo e em algum dia próximo alcançará Cuba. Nenhum tirano pode permanecer firme para sempre ante o poder da liberdade, pois a esperança de ser livre bate forte em cada coração - discursou.

O texto foi gravado e exibido por internet no congresso da APSC, além de ter sido transcrito para o espanhol. Muitos opositores gritaram ''Viva Bush'' e ''Abaixo Fidel''.

Espera-se que mais 300 pessoas participem do encontro, que termina hoje. No entanto, a reunião não tem a unanimidade entre a dissidência cubana. Mais de 15 organizações que integram a APSC se recusaram a participar do evento.