Título: Crime de honra avança no Paquistão
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Fonte: Jornal do Brasil, 21/05/2005, Internacional, p. A9

Mortes de mulheres foram 500 em 2004

ISLAMABAD - Os chamados ''crimes de honra'' acabaram em 2004 com a vida de mais de 500 mulheres no Paquistão, um costume que a organização Oxfam quer erradicar com uma campanha de conscientização voltada sobretudo para a província ocidental de Baluquistão, área tribal das mais conservadores do país e onde a ameaça aumentou muito.

- Cada vez há mais mulheres violentadas e assassinadas por familiares próximos por motivos pessoais, sexuais e econômicos, mas na maioria dos casos nem se denuncia - afirma Arif Mehmood, diretor da Oxfam.

A campanha, de seis anos, deve envolver ativistas políticos, líderes tribais e religiosos para fazer com que a prática perca a aceitação social.

- Mulheres de todas as idades são mortas para regular disputas, adquirir terra ou pagar dívidas, mas a questão da 'honra' é usada como desculpa para legitimar estes crimes - acrescentou Mehmood.

Segundo as tradições islâmicas no país, uma mulher pode ''desonrar'' sua família por ter um amigo, casar-se com um homem não escolhido por seus parentes ou tentar se divorciar. É também motivo de ''desonra'' que não ofereça dote ''adequado'', mantenha relação extra- matrimonial, procure trabalho fora do lar, saia de casa sem a permissão de um homem ou simplesmente fale com algum.

Atos de desobediências são considerados uma forma de ''envergonhar a família'', algo que nem sequer requer provas ou testemunhas para que as mulheres sejam mortas pelos parentes homens. Nas tribos, se entende que sua honra foi abalada e que têm o direito de castigá-la, por isso estes assassinatos não são investigados.

Segundo as estatísticas da Comissão de Direitos Humanos do Paquistão, 579 pessoas morreram em 2004 por causa dos ''crimes de honra'' e, delas, 546 eram mulheres.

- Esse costume brutal não tem base islâmica nem legal, mas raízes nas normas socioculturais e práticas tradicionais do país - disse Mehmood.

A campanha ''Podemos acabar com os crimes de honra'', faz parte de um projeto amplo para erradicar a violência contra as mulheres no Sul da Ásia, da qual participam 400 grupos em Bangladesh, Índia, Nepal, Paquistão e Sri Lanka.