Título: Chegou a hora de Angra 3
Autor: Raymundo de Oliveira
Fonte: Jornal do Brasil, 21/05/2005, Outras Opiniões, p. A11

Repetem-se com grande freqüência, na imprensa, notícias sobre a continuidade da construção da usina nuclear de Angra 3. O Clube de Engenharia tem defendido a conclusão das obras. Trata-se de decisão fundamental, capaz de garantir perspectivas reais de continuação do programa nuclear brasileiro.

Tecnicamente, seu término permitirá que o país acelere a implementação da unidade industrial de enriquecimento de urânio das Indústrias Nucleares do Brasil (INB), em Resende, Rio de Janeiro, e alcance a auto-suficiência na produção do combustível nuclear. Esta tecnologia foi toda desenvolvida no Brasil, e nela foi investido muito tempo, além de recursos humanos e financeiros. Apesar das pressões internacionais, o domínio da tecnologia se deu com sucesso. Todos acompanharam a difícil negociação com a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) para liberar a operação da nossa planta de enriquecimento de urânio. Ficou clara a importância do domínio da tecnologia nuclear na geopolítica internacional.

A engenharia nacional não pode abrir mão da capacitação adquirida na construção de Angra 2. Cerca de 75 % das horas de engenharia usadas no projeto e construção dessa usina foram executadas por engenheiros brasileiros. A retomada da construção de Angra 3 garantirá a preservação da capacitação tecnológica adquirida, essencial para o desenvolvimento da energia nuclear no Brasil.

Os técnicos do setor têm média de idade superior a 40 anos e, se não houver perspectiva de continuidade do programa nuclear, não haverá renovação. Dentro de cinco anos, grande parte desses profissionais estará perto da aposentadoria. O governo precisa investir em Angra 3 agora; caso contrário, o prejuízo será irreversível.

Economicamente, deve-se lembrar que o Brasil possui a terceira maior reserva de urânio do mundo, com 609 mil toneladas, considerando-se as minas de Pitinga e Cristalino. Não podemos abrir mão de qualquer fonte de energia, principalmente o urânio, cuja importância cresce no cenário mundial. Neste século, ele será cobiçado, devido à futura escassez do petróleo. Trata-se de um mercado estimado em dezenas de bilhões de dólares anuais.

Atualmente, o mundo começa a experimentar uma retomada dos investimentos em energia nuclear. Recentemente, 74 países assinaram um manifesto de apoio à energia nuclear em conferência da AIEA, incluindo Alemanha, Suécia e Itália. A pronunciada crise mundial do petróleo e o aquecimento global são os principais fatores responsáveis por essa retomada da opção nuclear.

O custo da indecisão é alto. A Eletronuclear gasta mais de US$ 20 milhões para fazer a manutenção dos equipamentos que foram comprados e se encontram estocados. No total, já foram investidos US$ 750 milhões, que serão desperdiçados, caso o projeto não tenha continuidade. Para concluir a obra, será necessário US$ 1,8 bilhão.

É preciso transformar Angra 3 de um custo de manutenção numa geradora de energia elétrica e instrumento de domínio tecnológico.