Título: O risco do diabetes gestacional
Autor: Camilla Antunes
Fonte: Jornal do Brasil, 21/05/2005, Vida / Saúde, p. 6

Doença pode se manifestar em gestantes que se alimentam de forma errada

Nada de bala, chocolate, biscoito recheado e guloseimas do gênero. Durante a gravidez, a mulher deve manter uma alimentação equilibrada. Não, não se trata de uma simples questão de beleza. A dieta durante o período de gestação é um assunto de saúde. Tanto para a mãe quanto para o bebê. Uma das complicações decorrentes de abusos gastronômicos é o diabetes gestacional, caracterizado pela deficiência na metabolização da glicose. Desenvolvida por mulheres que não eram diabéticas antes de engravidar, a doença é reversível na maioria dos casos, contanto que seja devidamente tratada. Isso inclui cumprir à risca todos os exames pré-natais e fazer um rigoroso controle do nível de glicose no sangue.

A gravidez, por si só, faz com que o organismo produza mais insulina, já que o bebê é um grande consumidor de nutrientes, principalmente glicose. Assim, a gestante necessita de doses cada vez maiores deste hormônio para metabolizar a glicose que ingere. Se ela consumir açúcar em excesso, depois de um tempo o pâncreas já não conseguirá dar conta de tamanha produção, abrindo portas para que um quadro de diabetes gestacional se instaure.

Outro perigo é a placenta, responsável pela nutrição do feto, produzir hormônios que criam resistência à ação da insulina no organismo materno. ''O diabetes gestacional costuma aparecer por volta da 24ª semana de gravidez, exatamente quando a placenta começa a produzir grandes quantidades de hormônios'', afirma a endocrinologista Kassie Cargnin.

O endocrinologista Leão Zagury, presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes, ressalta a importância dos exames do pré-natal para controlar a doença. Se a mulher não adotar os cuidados exigidos ainda nos três primeiros meses de gestação, o bebê poderá ter má-formação congênita, além de diversos tipos de complicações. Por outro lado, se o tratamento for realizado de maneira adequada, as chances de mãe e filho ficarem bem são enormes.

''No primeiro trimestre da gravidez o importante é controlar o nível de glicose na mulher. Passada esta fase, é preciso acompanhar o ganho de peso do bebê, pois se ele estiver muito acima do normal, o parto será mais complicado'', explica. O diabetes gestacional, segundo Zagury, é resultado da influência de fatores ambientais na herança genética da mulher. Grávidas com histórico familiar de diabetes devem redobrar os cuidados.

O excesso de ganho de peso na gestação é um fator determinante para o desenvolvimento do diabetes. Mulheres obesas têm grandes possibilidades de adquirir a doença. Mesmo as gestantes que não têm casos de diabetes na família podem apresentar a doença se não tiverem uma alimentação adequada. Por isso, é fundamental rever os hábitos alimentares e adotar uma dieta balanceada, elaborada especialmente para esta fase. Assim mãe e bebê terão os nutrientes de que precisam para ficarem saudáveis.

''O diabetes gestacional atinge uma em cada 20 grávidas. Para prevenir a doença, a mulher deve se preocupar em manter uma alimentação equilibrada e se exercitar regularmente desde o início da gravidez. As gestantes devem ganhar no máximo 12 quilos até o parto'', alerta Kassie.

De acordo com a nutricionista Leda Moura Pinheiro, é importante que a portadora de diabetes gestacional consulte um nutricionista para elaborar um cardápio balanceado. O consumo de laticínios desnatados e hortaliças é fundamental para o desenvolvimento do feto. Frutas da estação que estão muito maduras têm maior teor de açúcar e, por isso, devem ser evitadas.

''O ideal é consumir frutas cítricas de baixo índice glicêmico, que ajudam a controlar o nível de glicose no sangue. A laranja e o kiwi, por exemplo, são ótimas opções. Controlar o sal é essencial para o equilíbrio hídrico'', recomenda Leda.

Certos cuidados na hora do parto também são importantes. De acordo com o pediatra Durval Damiani, alguns bebês de pacientes com diabetes gestacional podem apresentar sintomas de hipoglicemia (queda brusca da glicose no sangue), já que estão saindo de um ambiente com altas taxas de açúcar. Além disso, os que ganharam muito peso exigem atenção redobrada. Eles são monitorados de perto durante, pelo menos, as primeiras 24 horas de vida. Depois, as crianças passam a ter uma vida normal, como qualquer outra. A probabilidade de o bebê contrair diabetes é baixa.

''As chances da criança ter diabetes são de um para dois mil nascidos. Depois do parto, o bebê recebe soro com glicose para normalizar o organismo e afastar o risco de hipoglicemia. Já nas primeiras horas a mãe pode amamentar o filho'', explica o pediatra.