Título: Aldo Rebelo vê fantasmas de 1954
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 24/05/2005, País, p. A3

O ministro da Articulação Política, Aldo Rebelo, acusou ontem a oposição de promover um ''clima de 54'' contra o governo, em referência ao movimento que levou ao suicídio do presidente Getúlio Vargas, em agosto de 1954. Nesse processo, segundo Aldo ''alertou'', os parlamentares da base governista que assinaram o pedido de CPI estariam atuando como linha auxiliar da direita.

- Quando a direita tenta desestabilizar governos democraticamente eleitos, setores da esquerda funcionam como linha auxiliar. Estou alertando esses setores para que não caiam nessa armadilha e se lembrem do papel que tiveram, por exemplo, em 54 e em 64 - afirmou Aldo, na Câmara, após reunião com o líder do governo, Arlindo Chinaglia (PT-SP.

Nas duas ocasiões, setores de esquerda se opunham aos presidentes, o que acabou colaborando para seu enfraquecimento. Cerca de cem deputados da base governista assinaram o pedido da CPI.

A entrevista de Aldo foi repleta de citações históricas. Ao citar o clima de 54, disse que a oposição está ''buscando um Gregório Fortunato''. A referência é ao chefe da guarda pessoal de Vargas, acusado pelo atentado contra o jornalista Carlos Lacerda, inimigo do então presidente. O ato de Fortunato acabou acelerando o processo de isolamento de Vargas.

Aldo comparou a atitude da oposição à das forças políticas que, no passado, promoveram golpes ou tentativas de golpe.

- São as mesmas forças que tentaram derrubar os presidentes Floriano Peixoto, Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek, Jânio Quadros, João Goulart. Não vamos aceitar esse tipo de coisa.

O ministro, apesar de sua argumentação histórica, tomou o cuidado de não citar a palavra golpe. endurecimento do discurso de Aldo, conhecido por medir palavras, foi estratégia para responder a recentes declarações do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB) - que apontou possível crise institucional, e do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso - para quem o governo parecia peru bêbado.

O ministro questionou a eficácia da CPI para investigação. Disse que a PF e o Ministério Público são mais relevantes para isso.

- Nenhuma CPI tem tanta eficácia na investigação como tem a Polícia Federal, ou o Ministério Público. Me aponte uma CPI que tenha sido mais eficiente na apuração do que a polícia.

Questionado sobre CPI dos Precatórios (1997) e a que levou ao impeachment de Fernando Collor (1992), disse: - Mais eficientes que a Polícia Federal? Não sei.