Título: Campanha eleitoral começa quente
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Fonte: Jornal do Brasil, 24/05/2005, Internacional, p. A8

Oposição pede que Gerhard Schröder deixe o cargo e país pode ter a primeira chanceler da história

BERLIM - Depois da surpresa do anúncio do chanceler alemão, Gerhard Schröder, de convocar eleições parlamentares antecipadas, começou quente a campanha na Alemanha. A líder da oposição conservadora, Angela Merkel, pediu ontem que o premier renuncie, num movimento que pode fazer dela a primeira chanceler federal da história germânica.

Merkel cresceu na ex-Alemanha Oriental e se tornou protegida do ex-chanceler Helmut Kohl, depois da queda do Muro de Berlim, em 1989. Agora, como presidente do mais influente partido da oposição, a União Democrata Cristã (CDU), é a favorita para substituir Schröder.

- A questão é única: Em quem as pessoas vão confiar para fazer a Alemanha ser forte de novo? - disse Merkel.

Schröder decidu a antecipação no domingo, quando seu partido, Social-Democrata (SPD) perdeu na Renânia do Norte-Westfália. O estado era governado pelo SPD há 39 anos e a derrota provocará paralisia no Bundesrat, a câmara regional. A oposição ficou com 2/3 dos assentos, o que lhe permite bloquear projetos do Executivo, inclusive o Orçamento.

Adiantar as eleições em um ano traz riscos para Schröder, que tem visto sua popularidade cair enquanto o índice de desemprego sobe aos mesmos níveis do pós-Guerra e as reformas em marcha se mostram ineficientes para alavancar a maior economia da Europa.

- A pergunta é fácil: queremos saber se o andamento das reformas tem ou não o apoio da população - resumiu o porta-voz do governo, Bela Anda, justificando a decisão de convocar o pleito antecipado. Pesquisas confirmam que o desafio é grande. Segundo a rede de tevê ARD, 46% dos alemães disseram votar pela CDU e 29% escolheriam o SPD.

- Será difícil para Schröder voltar ao poder, mas seria ainda mais árduo se ficasse mais um ano exposto. Este foi seu cálculo - afirmou Gary Smith, especialista da Academia Americana em Berlim.

O chanceler terá que convencer os alemães de que os conservadores - que chegaram a apoiar as reformas na previdência social e no mercado de trabalho - vão forçar modificações ainda mais dolorosas. Há dois anos, Schröder deu partida na chamada ''Agenda 2010'', que por incluir corte de benefícios trabalhistas gerou protestos. No entanto, o plano ainda não criou os prometidos empregos ou melhorou a economia. Para este ano, o crescimento é projetado para apenas 1%.

O trunfo do chanceler é que o eleitorado o considera mais ''carismático'' do que Merkel. E mesmo que o governo tenha perdido - em uma mensagem explícita por mudanças - não ficou claro ainda o que Angela poderia mudar. Ontem, ela obteve o apoio do influente líder da União Cristã-Social (CSU), Edmund Stoiber. Assim, conseguiu o primeiro passo rumo à chancelaria: a aliança conservadora. No entanto, será obrigada a deixar de lado suas propostas de reforma - uma revisão geral do complexo sistema tributário alemão - para defender o plano de impor uma classificação-básica de seguro de saúde para toda a população.

O líder do SPD, Franz Müntefering, vai pedir o voto de confiança no Parlamento no começo de julho. Dessa maneira, as eleições ocorreriam antes do fim de setembro, entre os dias 11 e 18. Pleitos para o Bundestag correm de quatro em quatro anos e para a convocação antecipada é necessário o voto de confiança e a aprovação do presidente, Horst Köhler. Müntefering não falou sobre a continuidade da atual coalizão com os Verdes. Ontem, o partido anunciou que aprova a antecipação e indicou o ministro de Relações Exteriores, Joschka Fischer, como candidato.