Título: A bomba-relógio do estresse
Autor: Claudia Bojunga
Fonte: Jornal do Brasil, 24/05/2005, Saúde & Ciência, p. A12

Doença não tem idade e afeta 70% dos homens, segundo pesquisa que ouviu 25 mil pessoas

A constatação preocupa cada vez mais os médicos: o estresse se tornou a doença do século. Não faz distinção de sexo, raça, cor ou religião, não separa sequer idade, acometendo desde jovens pressionados pela proximidade da entrada no mercado de trabalho a idosos, às voltas com a queda do poder aquisitivo e tendo de lidar com a própria decadência física.

Em uma pesquisa, a abrangência dessa doença moderna e urbana ficou evidente. A sondagem, realizada com 25 mil profissionais, de 30 a 70 anos, trouxe resultados inquietantes. Cerca de 70% dos homens apresentaram níveis de estresse elevado enquanto o equivalente para as mulheres foi de 40%. O grupo acompanhado passou por check-ups detalhados no consultório do médico Gilberto Ururahy, no Rio, entre os anos de 1990 e 2004.

- Em um contexto global e corporativo, o indivíduo vive em uma sociedade cada vez mais competitiva, sofrendo muita pressão - analisa Gilberto, que reuniu os resultados do levantamento no livro O Cérebro emocional, escrito junto com o médico-psiquiatra Éric Albert, fundador do Instituto Francês de Ações Sobre o Estresse. O volume foi lançado durante a Bienal do Livro, encerrada no domingo.

Situações de estresse são comuns. Uma discussão no trabalho, um medo intenso ou uma briga com o marido ou namorado. O corpo reage se colocando em estado de defesa: os batimentos cardíacos se aceleram, os brônquios abrem para a entrada de mais oxigênio, as pupilas se dilatam, o fígado envia glicogênio para os músculos, fornecendo energia. O cérebro comanda a produção de diferentes hormônios, sobretudo o cortisol e a adrenalina, que em excesso deprimem o sistema imunológico.

Essa resposta é chamada ''esforço de adaptação'', que só causa problemas quando o corpo fica permanentemente submetido ao elemento causador do estresse. Nesse caso, o mal é classificado como crônico e pode ter conseqüências sérias.

- A pessoa pode ter dores no corpo, hipertensão arterial, diminuição do desejo sexual ou até um ataque cardíaco - afirma Ururahy.

Segundo a pesquisa, que relacionou os níveis de estresse a alterações de saúde, 6% dos indivíduos desenvolveram diabetes e 7%, depressão. Uma parcela de 19% dos homens e 12% das mulheres teve hipertensão arterial, e 16% dos profissionais do sexo masculino e 24% do sexo feminino sofreram de gastrite ou úlcera. Um quadro que assusta o auxiliar de escritório Marcelo Moura, de 32 anos. No trabalho, o que mais o aborrece é a cobrança sucessiva.

- Fico irritado a ponto de passar mal, tenho dor de cabeça e de estômago - conta, referindo-se à produção excessiva de cortisol no aparlho digestivo, que eleva a taxa de ácido clorídrico e diminui o muco protetor intestinal.

Há vários agravantes, mas a raiz, segundo Èric Albert é a forma como se gerenciam as emoções.

- É preciso aprender a não ser vítima das emoções e sim ter uma relação positiva com elas, tentando defini-las. Quando o indivíduo se aborrece deve buscar a razão e anotar em um papel a sensação e sua causa - ensina Albert.

O advogado Antonio Marcos Pangaio, de 33 anos, se considera bem resolvido emocionalmente.

- Qualquer problema que tenho busco apoio junto a minha esposa. Converso muito com ela - afirma.

Para combater o estresse, além do autocontrole, é preciso ter um estilo de vida saudável. O advogado Luiz Carlos Rezende, de 55 anos, enfrenta o estresse com armas pouco recomendáveis:

- Para relaxar fumo e bebo. Para mim é que funciona - afirma.

Segundo o livro, esse equívoco não é raro, mas é preciso estar ciente que os estimulantes - cigarro, bebida e cafeína - como o próprio nome diz são excitantes. Em vez de ajudar, agravam os males do estresse. O fumo reduz o calibre das artérias e facilita o depósito de gordura em suas paredes. A prática regular de atividade física, segundo Ururahy e Albert, é uma das boas armas contra a doença e seus reflexos, como problemas coronarianos. O risco de infarto do miocárdio é duas vezes maior em sedentários. A advogada Cíntia Rocha, de 23 anos, é fã desse antídoto.

- Pratico esporte com freqüência, corro e faço ginástica de segunda a sexta. Sempre reservo um tempo para relaxar - diz Cíntia.