Título: Fraude leva 77 para a cadeia
Autor: Soraia Costa
Fonte: Jornal do Brasil, 24/05/2005, Brasília, p. D4

Esquema para burlar concursos públicos vinha sendo investigado há seis meses e envolve 104 pessoas do DF e outros estados

Até a noite de ontem, 77 pessoas já haviam sido presas, acusadas de participarem do esquema de fraude nos concursos promovidos pelo Centro de Seleção e Promoção de Eventos (Cespe), vinculado à Universidade de Brasília. Entre os acusados estão policiais civis, militares de alto escalão e funcionários do Tribunal de Justiça do DF. A operação, batizada como Galileu, está sendo coordenada pelo Departamento de Atividades Especiais (Depate) da Polícia Civil do DF e tem 104 mandatos de prisão preventiva. No domingo, 48 pessoas foram presas. Destas, 34 estavam em sala de aula fazendo a prova do concurso para Agente Penitenciário Federal. Hélio Garcia Ortiz, 51 anos, apontado como chefe da quadrilha, continua foragido.

Hélio Ortiz é técnico judiciário do TJDF, desde maio de 1984, mas foi requesitado para o gabinete de um deputado federal, que não quis se identificar, e em dezembro de 2003 foi trabalhar como secretário parlamentar na Câmara Federal. Segundo a polícia as informações sobre a operação vazaram e o acusado foi avisado, por isso conseguiu fugir.

A esposa de Hélio, Edina de Castro Garcia Ortiz e sua filha, Carolina Garcia Ortiz, também são acusadas de colaborarem no esquema de fraude. As duas estão detidas. Edina foi encontrada chorando no mato, nas proximidades da Quadra 15 do Park Way, na noite de domingo. Ela tentou fugir, mas se perdeu e, ao tentar conseguir ajuda, teve o celular localizado pela polícia.

O secretário de Educação de Valparaíso (GO), major Bonaldo Barbosa de Souza e o coronel da PM, Celso Deolindo, também estão entre os 23 suspeitos de participarem do núcleo da quadrilha. Bonaldo e outros cinco acusados continuam foragidos. Na Secretaria de Educação, a notícia do suposto envolvimento do major foi um choque. A secretária de gabinete, Raquel Lima, afirmou que a índole de Bonaldo estava acima de qualquer suspeita e que ele trabalhou normalmente na sexta-feira.

Em outubro do ano passado, o major sofreu um atentado em uma lanchonete de Valparaíso. Ele e o atual prefeito da cidade, José Valdécio (PFL) foram baleados durante a campanha das eleições municipais para a prefeitura. O caso ainda não foi esclarecido pela polícia. José Valdécio não foi encontrado para comentar as acusações sofridas por seu secretário de Educação.

A PCDF investiga o esquema há seis meses, após denúncias informando fraudes nos concursos para agente de polícia e delegado da Polícia Civil. Outros 12 concursos apontam irregularidades, entre eles o de auditor tributário, realizado no Mato Grosso. Ontem pela manhã, foram presos 14 servidores do TJDF acusados de terem entrado de maneira irregular no último concurso, realizado em 2003.

Os policiais civis Valdemir Batista do Nascimento e José Roberto de Oliveira se entregaram à corregedoria na madrugada de ontem. À tarde, outro policial foragido, Marinho José Coelho, que trabalhava na inteligência da PC de Goiás, foi detido. Os três são suspeitos de fazer parte da quadrilha.

A Polícia Federal está ajudando na operação cumprindo os mandatos de fora do DF. Foram presas nove pessoas no Mato Grosso, três na Bahia e uma em Goiás. Ainda há mandados de prisão preventiva para serem executados em sete estados: Mato Grosso, Goiás, Pará, Piauí, Paraná, Rio de Janeiro e Tocantins.

O Ministério Público do DF instalou procedimento administrativo interno para investigar as denúncias de fraude, mas como o Cespe é um órgão federal, há possibilidade do Ministério Público da União assumir a investigação.

A diretora do Cespe, Romilda Macarini afirma que sabia da operação há 45 dias e que existe um convênio entre a instituição e a Polícia Federal para coibir tentativas de fraude

- Não houve problema nenhum com a prova. Essa apreensão apenas mostra que o concurso está sendo feito com transparência, evitando que as fraudes sejam concluídas - afirma Romilda.