Título: CPI dos Correios: o dia D para governo e oposição
Autor: Paulo de Tarso Lyra e Sérgio Pardellas
Fonte: Jornal do Brasil, 25/05/2005, País, p. A2

Planalto mobiliza ministros, assessores e líderes para evitar comissão parlamentar

O futuro do governo Luiz Inácio Lula da Silva, da bancada governista e das costuras políticas visando à disputa pela presidência da República em 2006 estarão em jogo hoje, quando o Congresso decidirá se instala ou não a CPI para investigar um esquema de corrupção nos Correios. Convencido de que uma CPI neste momento produzirá sérios obstáculos ao projeto de reeleição de Lula, nas últimas 48 horas o governo intensificou a 'Operação Deus nos Acuda' pela retirada das assinaturas necessárias para a abertura do inquérito parlamentar. Operadores políticos, ministros e líderes partidários se mobilizaram numa aglutinação de forças jamais vista no atual mandato do presidente Lula. A ofensiva, liderada pelo chefe da Casa Civil, ministro José Dirceu, foi iniciada na noite de segunda-feira quando, reunidos no Palácio do Planalto, os ministros Ciro Gomes (Integração Nacional), Aldo Rebelo (Coordenação Política), Eunício Oliveira (Comunicações), Eduardo Campos (Ciência e Tecnologia), Luiz Gushiken (Comunicação e Gestão Estratégica) e o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP) decidiram intensificar o corpo-a-corpo com a bancada governista no sentido de esvaziar a CPI.

O reflexo foi o frenético entra e sai de líderes do PMDB, PP, PTB, PL e PSB no Planalto que puderam ser vistos por quem lá circulasse. Pedidos que adormeciam há mais de dois anos na Casa Civil, foram sendo atendidos numa velocidade de trem bala. Segundo assessores palacianos, logo que informado por emissários de que sua indicação para a diretoria da Petrobras, Djalma Rodrigues, seria confirmada nos próximos dias, o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), passou a participar ativamente da operação.

Caso não consiga êxito na operação para retirada das assinaturas para a CPI, o Planalto vai tentar derrubar em plenário o quorum da sessão de leitura do requerimento. A tarefa não é fácil, já que, para a abertura da sessão do Congressol, são necessários 14 senadores e 86 deputados.

O governo poderia trabalhar na tentativa de transformar a sessão em deliberativa: nesse caso, aproveitaria o quorum das sessões de ontem do Congresso para abrir os trabalhos de hoje. Numa manobra regimental, alegaria ausência de parlamentares para deliberação, encerrando os trabalhos. Até as 21 horas de ontem, contudo, a tática de guerra não havia sido divulgada.

Uma vez lida em plenário, o governo tem outro caminho a seguir: correr para retirar as assinaturas do pedido de instalação da CPI. O prazo acaba à meia-noite de hoje. Ontem, mais 12 deputados e um senador assinaram o requerimento.

O líder do PP na Câmara, José Janene (PR), que desde o início da crise defendeu que o caso Maurício Marinho era pontual e não envolvia o goverrno, também acredita ser possível retirar boa parte das assinaturas de seu partido. Pelas contas dele, até 12 - das 17 assinaturas - são passíveis de reversão.

- Existe um grupo de parlamentares que sempre votam com a oposição. Com esses, nem adianta eu conversar - complementou Janene.

Caso a CPI seja instalada, o governo já articula a indicação de parlamentares de sua estrita confiança para cargos-chave na Comissão. Pelo regimento, a presidência e a relatoria da CPI ficam nas mãos das maiores bancadas na Câmara e no Senado. Na Câmara, o PT tem a maior bancada e no Senado, o PMDB.