Título: Diretor dos Correios não teme prisão
Autor: Hugo Marques
Fonte: Jornal do Brasil, 25/05/2005, País, p. A3

Indiciado pela Polícia Federal por corrupção e fraude, Maurício Marinho livra Roberto Jefferson e diz que falou ''demais''

Filmado recebendo propina de empresários dentro da sede dos Correios, o ex-chefe do Departamento de Contratações e Fornecimento de Materiais da ECT, Maurício Marinho, deixou claro que não teme ser preso por corrupção. Marinho foi indiciado pelos crimes de corrupção passiva e fraudes a licitações. Após quase oito horas de depoimento, ontem, na Polícia Federal, ele mostrou que não é sua preocupação a possibilidade de ir para a cadeia: - Faz parte, né? Sei que errei, falei demais. Falei coisas que não devia ter falado. Sinto que prejudiquei minha família e estou envergonhado.

Um dos advogados que acompanharam o depoimento de Marinho, Sebastião Coelho da Silva, afirmou que a gravação feita nos Correios, onde seu cliente aparece pedindo propina, não é suficiente para colocar Marinho na cadeia.

- Não há corrupto sem corruptor. Não existe um corruptor. Não existe uma empresa, e não existe um objeto negociado. Então, quem quiser forçar que isso é corrupção passiva, precisa dar uma lidinha num manual bem simples de Direito.

Ao sair do prédio da PF, Marinho classificou como ''bravata'' a conversa - gravada - que teve com empresários. Na gravação, divulgada pela revista Veja, ele afirmou que agia com o aval de Jefferson.

Ontem, no entanto, disse que não vai transferir a responsabilidade do que falou para outras pessoas.

Marinho não desmentiu ter embolsado os R$ 3 mil como aparece na fita. Receber o dinheiro, disse ele, ''foi um ato impensado''. Ele contou à Polícia Federal que dois personagens que se apresentaram como Goldmann e Vitor, ofereceram uma futura assessoria de uma multinacional para quando ele se aposentasse. Goldmann seria o representante da Goldmann Equipamentos, segundo Marinho, a multinacional. O dinheiro que ele aparece colocando no bolso seria um ''adiantamento'' dessa futura assessoria.

- Não há essa corrupção falada na ECT. Nesse nível que nós trabalhamos, não é isso o que acontece - garante Marinho.

Os advogados de Marinho primeiro afirmaram que ele não conhece o deputado Roberto Jefferson, apontado nas gravações como cabeça do esquema de corrupção. Ao serem lembrados que o próprio Jefferson comentou sobre encontros com Marinho, um dos advogados afirmou que eles conversaram três vezes informalmente. Eles teriam tido, segundo os advogados, ''um cumprimento no aeroporto e um encontro em um aniversário numa casa de festa em Brasília''.

Advogados de Marinho afirmaram que ele vai doar a propina a uma instituição de caridade, de preferência um hospital que cuida de câncer infantil. Em seus comentários, chegaram a afirmar que o cliente não está nas suas faculdades mentais normais e que Marinho tem chorado muito.

A PF também ouviu ontem Fernando Godoy. Ele era assessor da Diretoria de Administração que negou qualquer envolvimento. O ex-diretor de Administração, Antônio Osório Batista, ainda não tinha sido encontrado até o início da noite de ontem pela Polícia Federal. Por volta de 19 horas, os responsáveis pelo inquérito receberam a informação de que ele estava numa reunião do PTB, em Brasília.