Título: 'Não' lidera também na Holanda
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Fonte: Jornal do Brasil, 25/05/2005, Internacional, p. A7

Testemunhas do sufoco do governo francês, o Executivo holandês e partidários da ratificação da Constituição Européia têm uma semana para reforçar sua campanha pois, assim como na França, o ''não'' domina as intenções de voto no referendo convocado para 1º de junho na Holanda.

De acordo com uma sondagem do instituto Nipo, 54% dos holandeses planejam optar pelo ''não'', contra 27% a favor. Em outra pesquisa, da Interview NSS e que não leva em conta os indecisos, 63% são contra a ratificação da Carta e 37% são favoráveis.

Em uma tentativa de diminuir a diferença com os opositores, o primeiro-ministro holandês, Jean Peter Balkenende, convidou para ir à Holanda o presidente do Parlamento Europeu (PE), Josep Borrell, que se reuniu com parlamentares holandeses para apoiar o ''sim''.

- É muito importante continuar explicando a Constituição com um debate o mais rico possível - justificou Borrell.

Aparentando otimismo, o presidente do Parlamento Europeu minimizou as previsões das sondagens.

- Não espero 75% de votos a favor, como na Espanha, mas com um terço dos eleitores indecisos ninguém pode prever o resultado - disse.

Dados recentes do governo também indicam uma vitória do ''não'', mas dão uma vantagem mínima, uma vez que apontam que 40% dos holandeses votarão ''não'' e 39% ''sim''.

Diante do quadro, a imprensa local já começou a especular sobre o que acontecerá se o povo da Holanda, um dos países fundadores da União Européia (UE), rejeitar a Carta. Mas por se tratar de uma consulta não vinculativa, o Parlamento, 80% a favor da Constituição, pode ratificá-la sem considerar o que os cidadãos pensam. No entanto, esta opção poderia pôr a legitimidade dos políticos em julgamento, que já disseram que o plebiscito somente é representativo se alcançar pelo menos 30% de participação.

Em outra semelhança com a França, o eleitorado holandês parece querer punir o governo de centro-direita de Balkenende. O aumento do custo de vida após a implantação do euro e a possível futura incorporação da Turquia à UE são argumentos nos quais se apóia o voto negativo.

Tanta polêmica levou o ministro de Exteriores da Holanda, Bernard Bot, a declarar esta semana ao jornal De Volkskrant que teria sido melhor não ter submetido a plebiscito um tema complexo como a Constituição Européia.

Mesmo assim, a possibilidade de uma segunda consulta, caso o não vença, não está descartada, conforme afirmou ontem o líder trabalhista na oposição, Wouter Bos, que neste caso defende o ''sim'', como o governo.

Em geral, a campanha a favor do ''sim'' não foi muito visível na Holanda e se baseou especialmente na entrega porta por porta de um folheto explicativo do conteúdo da Constituição.