Título: Esforço final para o 'sim' na França
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 25/05/2005, Internacional, p. A7
Ex-premier socialista Jospin vai à televisão defender a ratificação da Constituição Européia. Chirac dá última cartada amanhã
A cinco dias do referendo sobre a Constituição Européia na França, os defensores do ''sim'' se esforçam para convencer os indecisos, que segundo as mais recentes pesquisas de opinião representam valiosos 20% dos 1,4 milhão de eleitores. A força-tarefa é urgente: o ''não'' tem 54% das intenções de voto, uma alta de dois pontos percentuais na semana decisiva.
O ''não'' é amplamente majoritário (60%) entre os simpatizantes de esquerda, inclusive os do dividido Partido Socialista (PS, 54%). Já 73% dos simpatizantes da direita parlamentar no poder dizem ''sim'' ao texto.
Para tentar inverter o quadro pessimista aos anseios do governo de Jacques Chirac, o ex-primeiro-ministro Lionel Jospin foi ontem à televisão tentar convencer seus correligionários socialistas e o eleitorado indeciso.
- O ''não'' não mudará nada na França e nos enfraquecerá na Europa. Por isso, tenho a responsabilidade de apoiar o ''sim'' - justificou Jospin, em entrevista à rede pública TF1.
Mas a posição do líder não significa unidade. O Partido Socialista está dividido às vésperas da consulta popular, por trás de duas figuras: François Hollande, primeiro-secretário e defensor do ''sim''; e Laurent Fabius, ex-premier e partidário do ''não''.
Na quinta-feira, em um derradeiro pronunciamento na televisão sobre o assunto, será a vez de Chirac clamar aos franceses para que não enfraqueçam a voz do país no continente e não detenham a construção do bloco. Ele planeja lembrar ao eleitorado que a Europa ajudou a França a construir estradas, aeroportos e hospitais.
É jogo de tudo ou nada, e sem prorrogação. Ontem, o premier Jean-Pierre Raffarin afastou a hipótese de uma nova consulta, se o ''não'' vencer.
- Não acho que o prospecto de um segundo referendo seja algo que a França vá aceitar - disse à rede inglesa BBC.
O diretor do instituto de pesquisas Ipsos, Pierre Giacometti, concorda que o principal objetivo do governo nesta reta final seja ''focar nos indecisos e evitar um referendo que puna o Executivo''.
Os opositores franceses da Carta - membros da extrema direita, socialistas e comunistas - usam o alto índice de desemprego, o sistema de pensões, as reformas no ensino, as medidas frente à imigração e a jornada semanal de trabalho como motivos para a rejeição, embora nenhum destes temas esteja relacionado à Constituição Européia.
A esquerda - que abrange o Partido Comunista (pró-europeu e anti-liberal), dissidentes socialistas e Verdes, a extrema esquerda e os antiglobalização - adverte ainda ao eleitorado que a Carta promoverá o neoliberalismo econômico e o ''dumping social'', devido à chegada de trabalhadores do Leste Europeu a mercados como o francês, e à transferência de empresas nacionais para países onde o custo de produção seja menor.
No ''não de direitas'', destaca-se o líder do soberanista Movimento pela França, Philippe de Villiers, que se concentra na rejeição ao eventual ingresso da Turquia à UE e no ''risco'' da imigração. Já o deputado gaullista Nicolas Dupont-Aignan usa em sua campanha pelo ''não'' o ideário de independência nacional, cunhado pelo ex-estadista Charles de Gaulle.
Mas para os partidários do ''sim'', tanto na esquerda quanto na direita, quem mais tem a ganhar nessa campanha pelo ''não'' é o número 2 do Partido Socialista, Fabius. O político tem ambições pessoais para as eleições presidenciais de 2007.
- A Europa de hoje é muito livre-cambista e não é solidária o bastante - justifica Fabius, em um discurso que acusa o Executivo de preparar, se o ''sim'' ganhar, medidas liberais ''retrógradas''.
E segundo o diretor do instituto de pesquisas CSA, Roland Cayrol, não há lado predominante nesta batalha:
- Há dois países na França hoje - resume.