Título: Tsunami de lama
Autor: Antonio Sepulveda
Fonte: Jornal do Brasil, 25/05/2005, Outras Opiniões, p. A11

A volta do ex-ditador Getúlio Vargas ao poder, em 1951, foi marcada por uma série de denúncias de corrupção que, pela pena ferina do saudoso jornalista Carlos Lacerda, ficaram conhecidas como ''mar de lama''. Parecemos incapazes de emergir dessa imundície recorrente, e o cenário atual, sob a tutela de José Dirceu a manipular sua marionete, o bisonho Lula da Silva, nos dá a impressão de que o mar de lama cuspiu um tsunami de proporções calamitosas.

O processo contra Waldomiro Diniz foi para as calendas gregas. Os agentes que flagraram Duda Mendonça numa rinha de galos foram transferidos, pelo atrevimento de irritarem o marqueteiro presidencial. A ladroagem corre solta com a verba da merenda escolar. O assassinato do prefeito de Santo André segue envolto no mistério de abjetas tramas de extorsão. O Congresso foi invadido por centenas de Severinos delirantes. Transferem-se recursos dos contribuintes para os caixas dos partidos e as contas secretas de seus caciques. O impudente José Dirceu tem o desplante de tentar nos convencer de que modestos 19 mil cargos em comissão - dos quais algo como seis mil não são exercidos por servidores de carreira - não justificam a gritaria contra o nepotismo partidário. O governo, sem qualquer constrangimento, compactua com bandoleiros e entrega à quadrilha do MST, de mão beijada, mais R$ 100 milhões que certamente ajudarão no financiamento das suas pilhagens escandalosamente impunes. A política brasileira segue os métodos típicos do gangsterismo puro e simples.

O ex-chefe do Departamento de Contratação e Administração de Material dos Correios, Maurício Marinho, nos dá um exemplo que agradaria muito a Al Capone. Depois de acusar explicitamente, numa gravação, o deputado Roberto Jefferson de ser o chefe da gangue das propinas nos Correios, Marinho está agora a assumir toda a culpa. Jefferson, com a auréola de um santo remido e o apoio incondicional de Lula da Silva, nega sequer conhecer Marinho. O deputado jura que, quando procurado a participar das falcatruas, recusou a proposta indecorosa; é claro que ele não explicou por que não fez qualquer denúncia na ocasião oportuna. Ficamos imaginando o tipo de argumento que convenceu Marinho a voltar atrás com tanta agilidade... Ora, Roberto Jefferson é presidente nacional do PTB, unha e carne com o PT, paradoxalmente - ou nem tanto - ex-militante da tropa de choque de Fernando Collor de Mello; isso mesmo, aquele presidente deposto por falta de decoro entre outras canalhices. Podemos então, com a segurança da lógica indutiva, inferir que amigo de indecoroso não deve ser exatamente um congregado mariano.

Enquanto isso, os cidadãos brasileiros, sufocados por esta fedentina, continuam desempregados, trafegam por estradas esburacadas, vêem a qualidade de vida deteriorar-se em progressão geométrica, não vislumbram perspectiva de melhora e morrem sem atenção na fila do pronto-socorro, porque ninguém conhece o destino da imensa verba exclusiva da saúde.

Nosso país precisa desesperadamente de políticos honrados. É imprescindível nunca mais votar na corja que aí está. Temos de livrar os poderes públicos federal, estadual e municipal de toda essa caterva de vadios e desonestos. Somente assim haverá condições de criar mecanismos eficazes para o controle do dinheiro público, de pôr um fim na apropriação política da máquina governamental e reduzir a um valor infinitesimal o número de cargos passíveis de serem utilizados por políticos corruptos e corruptores como moeda de troca para a formação de maiorias parlamentares. Esta é a verdadeira herança maldita do Brasil e dela, enquanto elegermos essa matula, somos todos cúmplices.