Título: 'Elias Maluco' começa a ser julgado
Autor: Ana Paula Verly e Duilo Victor
Fonte: Jornal do Brasil, 25/05/2005, Rio, p. A15
Advogados de defesa dizem que não existem provas para condenar o traficante, acusado de matar o jornalista Tim Lopes
Confiantes na absolvição, os advogados do traficante Elias Pereira da Silva, o Elias Maluco, acusado do assassinato do jornalista Tim Lopes, em 2002, dispensaram ontem as testemunhas de defesa e a leitura das peças do processo para antecipar o debate. Segundo os advogados Célio Maciel e Maurício Neville, nenhuma testemunha confirmou a presença do réu no local do crime. As promotoras do caso garantem que provas testemunhais e técnicas sustentam a acusação e a condenação do traficante, um dos líderes do Comando Vermelho (CV). - O processo está muito fácil para a defesa. Embora a promotoria esteja bem representada, ainda não há provas suficientes para a condenação do Elias. Queremos ir para o debate para que ele seja logo absolvido - disse Célio Muciel.
Ontem, no 1º Tribunal do Júri, três testemunhas de acusação foram ouvidas. O delegado titular da delegacia de homicídios, Carlos Henrique Pereira Machado, que encontrou os restos de Tim na Grota, e os jornalistas da TV Globo Cláudio Renato, que deu queixa do desaparecimento do repórter, e Cristiana Gomes, que acompanhou o depoimento de outro acusado pela morte de Tim, Ângelo Ferreira da Silva, o Primo. Uma das promotoras do caso, Patrícia Glioche Béze, demonstrava confiança na condenação.
- Nossa expectativa é que seja feita Justiça e a Justiça pera o Ministério Público (MP) é a condenação do réu - disse Patrícia.
De acordo com o juiz Fábio Uchôa, que preside o julgamento, com a suspensão das etapas a sentença pode sair hoje. Na tarde de ontem, o júri assistiu cerca de duas horas de reportagens sobre a morte de Tim Lopes.
- Na hora de dar o veredicto, os jurados não vão se lembrar dos comentários jornalísticos, mas sim das provas, que o MP não está apresentando - disse Muciel.
Mesmo antes do debate entre promotoria e defesa, que começou na noite de ontem, os advogados de Elias Maluco já diziam que iriam questionar a utilização dos depoimentos dos outros oito envolvidos, entre eles o de Primo, que apontou, no decorrer do inquérito policial, a participação de Elias como mandante do crime. A promotora Viviane Tavares Henriques disse que o depoimento é válido.
- A acusação é feita com base em um contexto probatório, do qual o depoimento dele faz parte - explicou Viviane Tavares Henriques, acrescentando que o interrogatório do co-réu vale como prova.
Elias Maluco deixou o presídio Bangu 1 às 8h15 e seguiu em um carro do Serviço de Operações Especiais (Soe) do Departamento de Administração Penitenciária (Desipe) até o Fórum, no Centro. Ele foi escoltado por seis carros do Grupamento de Ações Táticas da PM (Getam) e um helicóptero da corporação. Por volta das 9h, quando chegou ao local, cerca de 15 pessoas já aguardavam em uma fila a abertura do plenário. A maioria era estudante de Direito.
- Deixei de ir para a faculdade hoje para acompanhar o julgamento, que será melhor do que qualquer aula - disse o estudante do primeiro período de Direito Gustavo Almeida, 19 anos.
O plenário ficou lotado e a fila na porta do Fórum, que chegou a ter mais de 100 pessoas, só diminuiu depois das 17h, quando cerca de 40 ainda aguardavam a vez de entrar para acompanhar o julgamento. A segurança no Tribunal foi reforçada por cerca de 40 homens, entre PMs e guardas judiciários, além de policiais no entorno à paisana e duas equipes uniformizadas.
Vestindo calça jeans, camisa branca e tênis, Elias Maluco permaneceu o tempo todo de cabeça baixa, evitando os flashes dos fotógrafos. Ao ser interrogado, o traficante disse que ficaria calado e que só os advogados falariam. Em setembro de 2002, quando foi preso, Elias negou ser conhecido na Favela da Grota como Elias Maluco e disse desconhecer que houvesse baile funk no local. Além disso, ele afirmou que na noite do crime estava viajando.
Ontem, no tribunal, Elias era observado de perto por sete PMs que se revezavam em sua escolta e pela mulher de Tim Lopes, Alessandra Vágner, que estava acompanhada por parentes.
- Espero que o MP consiga provar o envolvimento do acusado. Nada vai trazer o Tim de volta, mas a família aguarda Justiça. Queremos a confirmação de que estamos numa sociedade que pune os que cometem excessos - disse André Martins, cunhado de Tim Lopes.