Título: Barreira a capital contra juros altos
Autor: Sabrina Lorenzi
Fonte: Jornal do Brasil, 26/05/2005, Economia & Negócios, p. A17

Com o intuito de reforçar o debate sobre a criação de barreiras à entrada de capital especulativo, o economista Pedro Paulo Bastos apresentará durante o Encontro Nacional de Economia Política, que acontece na Universidade de Campinas (SP), um estudo que mostra a experiência de cinco países ao adotar o mecanismo para reduzir a vulnerabilidade econômica provocada pela saída de recursos. A pesquisa, que será apresentada na sexta-feira, último dia do evento, trará os casos de Chile, Índia, China, Malásia e Tailândia.

- Nem sempre as experiências obtiveram êxito, mas o fato é que, em todos os casos, os mecanismos elevaram o ingresso de investimento estrangeiro de longo prazo, inclusive no setor produtivo, reduzindo o risco de uma saída súbita de capitais do país provocada por fatores externos - explica Bastos. - No Brasil, temos uma política econômica criada para incentivar o ingresso desse tipo de capital, o que eleva o risco de instabilidade.

O controle de entrada de capitais é um dos mecanismos apontados pelos economistas reunidos no evento como alternativa à política monetária baseada na elevação da taxa de juros, explica o economista. Segundo ele, sem necessidade de reter o capital, o governo tem espaço para reduzir os juros. As críticas sobre a política monetária do governo de Luiz Inácio Lula da Silva compõem o documento ''Carta de Campinas'', que será apresentado amanhã. Em sua elaboração, os economistas da Sociedade Brasileira de Economia Política pretendem adotar um tom mais ácido em relação a documento semelhante divulgado no encontro anterior, em Uberlândia, no ano passado.

No evento, também será defendida a revisão dos contratos das concessionárias de serviços públicos, cujo mecanismo de reajuste de tarifas vem impedindo a obtenção das metas anuais de inflação estipuladas pelo Banco Central, o que torna inócua a política de juros altos.

- Não considero a meta de 5,1% ambiciosa demais. O problema é que as tarifas impedem seu alcance. A política monetária castiga o trabalhador, ao sufocar o empresário.