Título: Indústria freia investimentos
Autor: Sabrina Lorenzi
Fonte: Jornal do Brasil, 26/05/2005, Economia & Negócios, p. A17

Expectativa de queda na demanda em decorrência da alta dos juros leva empresários a rever planos para aplicação de recursos

Descrentes na demanda controlada pelos juros altos, os empresários começam a refazer planos de investimento. A parcela de empresas dispostas a aumentar investimentos caiu de 63% para 60%, enquanto as que planejam reduzir os aportes passaram de 9% para 11%, entre as 685 empresas consultadas na Sondagem da Indústria realizada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV).

- As empresas reduziram o ímpeto de investir, o que tem relação com juros altos, incertezas em relação à condução da política monetária e a valorização do dólar - afirma Aloisio Campelo, coordenador da sondagem da FGV. - Realmente há desaceleração na realização de investimentos, mas os números apontam que, mesmo com a queda, ainda são mais favoráveis do que no início do ano passado - comenta, lembrando que, em outubro de 2003, os investimentos para 2004 estavam nos planos de apenas 39% dos empresários.

Dos 12 segmentos da indústria investigados, oito diminuíram a intenção de comprar máquinas e equipamentos. A parcela de empresas de metalurgia que planeja aumentar o nível de investimentos para 2005 despencou de 82% em outubro do ano passado para 59% em abril deste ano. A indústria têxtil também freou planos, com queda de 66% para 40% na lista de empresários voltados à elevação da compra de bens de capital. No ramo das matérias plásticas, o percentual caiu de 70% para 55%, com aumento de 3% para 12% no total de entrevistados que resolveram o contrário (diminuir os recursos para elevar produção).

Também com expressiva mudança de humor, o universo de fabricantes de material elétrico com planos de ampliação caiu de 70% para 50%.

Segundo o economista Samuel Pessôa, da FGV, a mudança de humor nos segmentos que representam a indústria de bens de capital já reflete a alta do real. A valorização do câmbio estimula a importação de máquinas e afeta o desempenho dos exportadores do setor.

Entre os fatores que limitam a realização do investimento, a incerteza quanto à demanda é o que mais cresceu entre outubro e abril. Citado como a segunda maior preocupação, a queda na expectativa de consumo tornou-se queixa de 33% dos entrevistados da Sondagem. Na pesquisa anterior, o item foi citado por 25% dos industriais.

- O problema é que esta incerteza em relação à demanda pode continuar, pode ser uma tendência, porque o cenário econômico reflete desaceleração - afirma Campelo.

A sondagem mostra que o maior vilão da indústria continua sendo a carga tributária, motivo de insatisfação para 46% dos entrevistados. Além de abalar a perspectiva de consumo das famílias, os juros elevaram em um ponto, para 20%, as queixas sobre financiamentos.

A intenção de investir em eficiência despencou na indústria. Caiu de 38% para 26% o percentual de empresas com foco em produtividade, segundo a sondagem. No caso da indústria de bens de capital, o caso é o mais grave: encolheu de 62% para 17% o número de empresas dispostas a investir em eficiência.

Nove dos 12 segmentos investigados pela FGV apontam para uma redução de investimentos em produtividade. O mais expressivo é o de mecânica, no qual a parcela é derrubada de 72% para 25%. Por outro lado, os investimentos mantidos serão canalizados para ampliação da capacidade, com aumento de 18% para 34% no total de companhias que pretendem investir mais em expansão.

Na indústria como um todo, o total de empresas falando em aumento de capacidade passou de 41% para 52%, uma das boas notícias da pesquisa.

Metalurgia, material elétrico e de comunicações e celulose e papel sinalizam reduzir investimentos tanto em eficiência como em expansão.