Título: Oito dos dez concursos sob suspeita são do Cespe
Autor: Soraia Costa
Fonte: Jornal do Brasil, 25/05/2005, Brasília, p. D1

Os depoimentos dos 14 funcionários do Tribunal de Justiça do DF, que foram presos na última segunda e confessaram a compra de vagas no concurso para o órgão em 2003, comprovam a existência de uma pessoa de dentro do Centro de Seleção e Promoção de Eventos (Cespe) que seria responsável por adiantar os gabaritos das provas ao chefe da quadrilha, Hélio Garcia Ortiz. A polícia não tem mais dúvida do envolvimento de pelo menos um funcionário do Cespe nas fraudes, mas ainda não divulgou quem seria a pessoa. A expectativa é a de que, ainda hoje, todos os 27 integrantes do núcleo da quadrilha estejam presos. O técnico judiciário Hélio Garcia Ortiz confessou ser o líder do esquema e admitiu ter um colaborador no Cespe, que ajudava no esquema das fraudes.

O reitor da Universidade de Brasília, Lauro Morhy, se reuniu com o diretor-geral da PCDF, Laerte Bessa, e com o secretário de Segurança, Athos Costa, para discutir o caso. Morhy confirmou o que havia sido dito pela diretora do Cespe, Romilda Macarini, ontem, afirmando que será aberta uma sindicância para investigar as irregularidades. Romilda prestará depoimento hoje na Divisão de Repressão de Crimes de Alta Tecnologia (DICAT).

- A polícia não quer arranhar a imagem do Cespe, apenas acabar com a corrupção lá dentro - afirma Laerte Bessa.

O Cespe é uma entidade federal, responsável por mais de 80% da renda da Universidade de Brasília. Dos dez concursos que estão sob suspeita de fraude, seis foram realizados pelo Cespe. Além destes, foram identificadas irregularidades no concurso para o Banco de Brasília, previsto para junho, e para a Câmara Legislativa, ainda sem data.

Por enquanto, o Cespe continua realizando normalmente os concursos em andamento. O Ministério da Justiça decidiu manter a prova para Agente Penitenciário Federal, realizada no domingo, mas as próximas etapas estão temporariamente suspensas. Um novo cronograma será divulgado após a conclusão das investigações.

A polícia confirmou a fraude nas provas do TJDF, Metrô, Tribunal Regional de Tocantins, Tribunal de Justiça do Pará, Secretaria da Fazenda de Mato Grosso (cargo de fiscal tributário), Polícia Civil do DF, Universidade do Estado do Mato Grosso e Agente Penitenciário Federal. Além dos concursos que ainda não foram realizados, do BRB e Câmara Legislativa.

As 14 pessoas presas no TJDF citaram o nome de Hélio e afirmaram pagar cerca de R$ 40 mil para conseguir os gabaritos das provas. Algumas deram carros populares como pagamento.