Título: Ameaças de morte
Autor: Hugo Marques e Luiz Orlando Carneiro
Fonte: Jornal do Brasil, 20/10/2004, País, p. A-3
Responsável pelo envio em 1997 à Câmara das três fotos que mostrariam o jornalista Vladimir Herzog horas antes de sua morte, o ex-cabo José Alves Firmino contou ontem que vem recebendo ameaças de morte e que se considera ''vítima'' de uma lavagem cerebral que teria sido feita por superiores no Exército. - A filosofia deles é que estávamos fazendo um benefício para o Brasil, um bem para a nação. Se mandam praticar um ato irregular, é porque no fim isso seria bom para o país. Foi uma lavagem cerebral.
Segundo Firmino, as fotos de Herzog faziam parte de um conjunto de quatro caixas de documentos de inteligência do Exército que recebeu em sua casa. Dias antes, ele recebeu por um oficial superior a notícia de que o Comando de Inteligência do Exército discutia sua morte. Portador de hanseníase, Firmino ameaçava processar o Exército.
O nome do oficial, que ainda está na ativa, não é revelado por Firmino para preservá-lo. O Centro de Comunicação Social do Exército informou que não iria comentar as afirmações de Firmino.
O oficial que contou a suposta trama pediu para que ele se afastasse. Quando recebeu os documentos, Firmino avaliou que tinha algo para se proteger. Segundo ele, um cabo não tinha acesso a papéis como aqueles.
- Havia ordens de busca, pedidos de busca, fotos, relatórios de inteligência - afirmou Firmino, que contou sua história ao jornal Correio Braziliense na edição de ontem.
Uma das ordens recebidas por Firmino, sempre segundo ele, foi matar o ex-tenente Benjamim Soares de Soares. Depois de ter trabalhado no setor de inteligência, Soares costumava fotografar arapongas que conhecia, um tarefa que enfurecia os comandantes. O ex-cabo diz ter sabotado o carro de Soares, que saiu vivo do acidente e ainda sobreviveu a pelo menos mais um atentado.
- O tenente é ligado à Anistia Internacional, muito respeitado. Mas o comando do Exército odeia ele até hoje.