Título: Protestos de todos os lados
Autor: Hugo Marques e Luiz Orlando Carneiro
Fonte: Jornal do Brasil, 20/10/2004, País, p. A-3

A retratação do Exército em relação à sua manifestação inicial chegou no final de um dia em que críticas contra a instituição surgiram de todos os lados. Ministros, deputados, senadores e entidades falaram em recaída autoritária e classificaram a nota de domingo como ''infeliz'', ''lamentável'', ''leviana'', ''um escárnio'', entre outras manifestações. Dois ministros falaram de forma mais direta. Tarso Genro (Educação) afirmou que a nota de domingo ''não é produtiva'' e que seu texto ''contradiz a atual relação de respeito democrático que existe entre as Forças Armadas e a sociedade civil''.

- Lamentável. Acredito que o Brasil teve períodos de gigantescos sofrimentos naquela oportunidade toda - endossou Waldir Pires (CGU).

O presidente da Câmara, João Paulo Cunha, afirmou que a manifestação representa um tempo que não existe mais.

- A nota foi muito infeliz e reporta a um tempo que não existe mais. Na minha impressão, não tem correspondência no comando do Exército - afirmou.

O PPS divulgou nota em que fala em ''escárnio''.

- Falar em movimento subversivo no quadro de um regime que se instaurou pela força das armas, rasgando a Constituição ao derrubar um presidente eleito legitimamente pelo povo, é, antes de desrespeito ao bom senso, um escárnio - diz o texto, assinado pelo presidente da legenda, Roberto Freire (PE).

Na Câmara, a única voz que se levantou em defesa do Exército foi a do deputado Ricardo Izar (PTB-SP):

- Não dá para entender por que o Correio Braziliense faz uma reportagem 29 anos depois da Anistia, depois que tudo acabou. (...) Acho que o Exército não poderia ficar parado depois de uma reportagem dessa. Tinha de fazer uma nota, sim, e foi feita essa nota. Agora, como foi feita, isso é outra coisa.

Em nota, a Federação Nacional dos Jornalistas cobrou investigação sobre a morte ou desaparecimento de 16 jornalistas durante o regime militar:

- É no mínimo leviana a posição do Exército ao afirmar que não há documentos históricos comprovando as torturas, mortes e desaparecimentos.