Título: Planalto recorre a Garotinho para tentar derrubar CPI
Autor: Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Jornal do Brasil, 26/05/2005, País, p. A2

Sem sucesso, Dirceu negocia com ex-governador retirada de assinaturas do requerimento

BRASÍLIA - Com o peso de quem lidera um grupo de vinte deputados que assinaram o pedido de abertura da CPI, o ex-governador Anthony Garotinho, mesmo longe de Brasília, era apontado nos bastidores do Congresso como peça-chave para sepultar a investigação dos Correios. O governo negou que tenha recorrido a Garotinho para sepultar a CPI. Uma viagem do chefe da Casa Civil, José Dirceu, para o Rio chegou a ser cancelada para evitar vinculação com a operação anti-CPI.

Aliados do ex-governador contaram que ontem Garotinho e Dirceu conversaram pelo telefone durante 40 minutos, mas a conversa não surtiu o efeito esperado pelo governo. Garotinho colocou em negociação a liberação das contas B do Banerj, a antecipação do pagamentos dos royalties do petróleo e até a construção de uma refinaria no Estado do Rio.

- O Garotinho pessoalmente é favorável à CPI. Para nós, ele não deu nenhuma orientação. Se desse também não adiantaria. A maior parte da nossa bancada já foi embora - disse o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

Na terça-feira, em ato partidário, Garotinho disse que um ministro ligou para ele ''suplicando pelo apoio contra a instalação da CPI dos Correios'', conforme publicou o JB ontem..

Pelos cálculos de Eduardo Cunha, os ''Garotinho puro-sangue'' são entre 15 e 20 dentro de uma bancada de 85 deputados. Apesar de a CPI representar uma fragilidade do governo, tornando-o mais vulnerável às pressões adversárias, Cunha garante que os peemedebistas não apostam nisso para reabrir o diálogo.

- Nossa questão não é essa, é política. Aliás, eles estão maltratando todos. Um deputado aqui chegou a dizer que prometeram liberar as emendas retidas. Ele respondeu: vão prometer e não cumprir de novo? - ironizou Eduardo Cunha.

Cunha lembrou que, neste momento, não existe a possibilidade de reconstruir as pontes entre o Planalto e o grupo Garotinho. O peemedebista reclamou que eles são tratados como inimigos pelo Executivo.

Segundo Cunha, há pouco mais de um mês, houve uma tentativa de reaproximar Garotinho do Planalto. A governadora do Rio, Rosinha Matheus, foi a Brasília e, junto com o presidente do PMDB, deputado Michel Temer, participou de audiências com o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, e com o chefe da Casa Civil

- Depois disso, eles deram algum telefonema para nós? Nada - reclamou o peemedebista.

Para Cunha, se naquele momento, as relações tivessem sido refeitas, as coisas não teriam chegado onde chegaram. O deputado não descarta uma nova rodada de conversa entre os grupos, mas acha que a iniciativa deve partir do Planalto.