Título: Bandidos dominam serviços
Autor: Waleska Borges
Fonte: Jornal do Brasil, 20/10/2004, Rio, p. A-13

Cobranças de pedágio para acesso aos morros, ordens de fechamento do comércio e controle na prestação de serviços é prática comum nas favelas do Rio. No mês passado, o revendedor de gás Gonçalo Waldemar Evangelista foi expulso da Rocinha por traficantes, que tomaram seus pontos de venda. Para retirar as mercadorias do depósito, a polícia montou uma operação na favela. Policiais chegaram a escoltar dois caminhões que circulavam pela favela carregados com botijões. A guerra pelo fornecimento de gás inflacionou o preço do produto na Rocinha, que passou de R$ 37 para R$ 42. Há três meses, uma reportagem do Jornal do Brasil denunciava que traficantes impediam funcionários da Supergasbrás de entregar botijões em ruas dos bairros Bancários, Cocotá e Conjunto dos Tijolinhos, na Ilha do Governador. Pelo serviço de atendimento da Supergasbrás, os clientes eram informados que homens armados estavam abordando o caminhão e ameaçando a vida dos motoristas. Na época, uma mensagem esclarecia aos clientes que uma outra fornecedora ligada a traficantes seria a responsável pelo impedimento da passagem do caminhão.

No Vidigal, a intervenção do tráfico na vida dos moradores chegou ao ponto de se estipular um toque de recolher. No início do mês passado, depois que o morro foi dominado pela facção Amigos dos Amigos, o tráfico determinou o horário de chegada em casa. Para entrar no Vidigal depois das 19h e até a meia-noite, segundo denúncias da comunidade, o morador era obrigado a pagar R$ 1,50, além do valor pago ao moto-táxi, que, durante a madrugada, cobra R$ 2 pelo transporte. As Kombis, durante a noite, cobravam R$ 1,60 para entrar com o morador na favela. Depois do horário de recolhida, a entrada a pé no morro estava proibida.