Título: Comércio reduz ritmo de expansão
Autor: Samantha Lima
Fonte: Jornal do Brasil, 20/10/2004, Economia, p. A-19

Alta nos preços em julho determinou desaceleração das vendas no varejo. Setor de alimentos e bebidas puxou resultado . O repique da inflação ocorrida no meio do ano, que culminou com alta de 0,91% no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) apurado em julho, teve reflexo nos resultados de agosto no varejo. Segundo Pesquisa Mensal de Comércio, divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apesar do aumento de 7,53% no volume de vendas em comparação com igual período em 2003, houve desaceleração da tendência de alta verificada nos meses anteriores. Em junho e julho, as vendas cresceram 12,86% e 12,04%, respectivamente. - Um indício de que o aumento de preços determinou essa redução é o descompasso entre a queda apontada no volume de vendas do comércio e a ocorrida na receita, que foi bem mais modesta, de 16,6% em julho para 13,20% em agosto, em comparação com 2003 - avalia Nilo Lopes de Macedo, técnico do IBGE responsável pela pesquisa. - É uma evidência clara de que preços foram reajustados.

A desaceleração do índice na série mensal foi provocada principalmente pelo comércio de alimentos, bebidas e fumo, que havia crescido 10,4% em julho e, no mês seguinte, apenas 4,06%.

O desempenho no setor de combustíveis e lubrificantes também manteve a trajetória de freio no consumo, apesar do crescimento na comparação com 2003. Os últimos índices apurados foram de 7,84% em junho, 3,41% em julho e 1,78% em agosto. Reflexo da alta de 10,8% no preço da gasolina, decretada em junho, pode ter provocado mudança no perfil de utilização do veículo familiar, avalia o técnico. Prova é que o setor é o único, entre os mais relevantes analisados mensalmente pelo IBGE, onde houve aumento na receita nos três últimos meses pesquisados, mesmo com a retração nas vendas.

A perda na força da expansão do comércio entre julho e agosto também se verificou no setor de móveis e eletrodomésticos. O segmento, no entanto, continua crescendo no comparativo com 2003, tendo sido o principal responsável pelo incremento no volume geral do comércio varejista este ano, com elevação de 29,5%.

O único setor que teve retração no confronto com 2003 foi o de vestuário e calçados, cujo volume de vendas cresceu em 14,13% em junho e, dois meses depois, registrou contração de 0,02%.

- O Dia das Mães e a chegada repentina do inverno provocaram uma elevação no consumo nos três meses anteriores. Muita gente deve ter se endividado e, como conseqüência, optado por não gastar em agosto, mesmo porque também há uma preocupação de o consumidor preservar o crédito para as compras de fim do ano - afirma.

A divulgação da pesquisa, no entanto, não deverá interferir no resultado da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) iniciada ontem, acreditam analistas do mercado.

- A pesquisa tem uma defasagem. As condições econômicas de agosto que determinaram a queda nas vendas em comparação com os meses anteriores não são as mesmas de hoje, dois meses depois. Continuamos apostando na elevação da Selic - diz o economista-chefe da Fides Asset Management, Elson Telles.