Título: Anistia critica EUA por uso de tortura
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Fonte: Jornal do Brasil, 26/05/2005, Internacional, p. A12

Guantánamo é ''gulag moderno''

LONDRES - A organização de defesa dos direitos humanos Anistia Internacional (AI) criticou em um relatório divulgado ontem uma nova ordem mundial ''perigosa'', denunciando principalmente a atitude dos Estados Unidos, acusado de duplicidade ao procurar contornar a proibição da tortura.

- O país tenta promover uma nova política que utiliza a retórica da liberdade e da justiça para destilar medo e insegurança - acusou Irene Khan, secretária-geral da AI, referindo-se ''a uma nova definição, suavizada, da tortura para fugir da proibição total aplicada a esse tipo de técnica interrogatória''.

O relatório de 308 páginas lista as violações cometidas em 131 países. Ele menciona, claramente, as acusações de soldados americanos de torturas e maus-tratos nas prisões de Abu Ghraib, em Bagdá e na da base naval de Guantánamo, em Cuba. E vai além: as suspeitas nunca foram investigadas de forma ''séria e independente''.

- Quando a nação mais poderosa do planeta ignora ou até infringe a lei e os direitos humanos, autoriza as demais a fazer o mesmo - frisou Khan, qualificando a base de Guantánamo de ''gulag moderno''.

A organização também destacou os esforços de Washington para ''redefinir'' o conceito de tortura estabelecido pela Convenção de Genebra. O Pentágono usa termos como ''manipulação ambiental'' ou ''manipulação sensorial'' para justificar suas táticas interrogatórias.

Mas os EUA não são o único país apontado por terem demonstrado ''um terrível desprezo pelo estado de direito''. O documento lembra, por exemplo, que Israel edificou um muro na Cisjordânia, ignorando a recomendação contrária emitida pela Corte Internacional de Justiça.

Apesar da realização de eleições, a Anistia Internacional diz que o Afeganistão se afogou na anarquia e na instabilidade. Quanto ao Iraque, continua sendo abalado por ''uma violência endêmica''.

A AI registra que o respeito aos direitos humanos ''continua sendo uma utopia'' em grande parte da América Latina. Na região, ''persiste a tortura, os homicídios ilegítimos nas mãos da polícia e as prisões arbitrárias''.

O relatório também acusa soldados russos de estupro e tortura de mulheres chechenas ''na maior impunidade''. E na República Democrática do Congo, ''nada foi feito para acabar com os estupros sistemáticos de dezenas de milhares de mulheres e crianças''.

Em uma economia cada vez mais globalizada, ''são as grandes empresas, as instituições financeiras e os acordos comerciais internacionais que determinam as regras do jogo'', disse Khan, criticando a nova ordem mundial.