Título: 'Elias Maluco' é condenado a 28 anos
Autor: Ana Paula Verly
Fonte: Jornal do Brasil, 26/05/2005, Rio, p. A15

Traficante torturou e matou o jornalista Tim Lopes

O traficante Elias Pereira da Silva, o Elias Maluco, foi condenado ontem a 28 anos e seis meses de prisão pelo assassinato do jornalista Tim Lopes, em junho de 2002. Depois de 16 horas de julgamento, o presidente do 1º Tribunal do Júri, juiz Fábio Uchôa Pinto de Miranda Montenegro, leu a sentença. Ainda no plenário, a defesa recorreu da decisão. No dia 14 de junho, serão julgados outros seis acusados. Aos 51 anos, Tim Lopes foi capturado na Vila Cruzeiro, na Penha, onde fazia uma reportagem sobre baile funk. Ele foi torturado e teve seu corpo esquartejado, queimado e enterrado na Favela da Grota, no Complexo do Alemão. Elias Maluco, 39 anos, era na época o chefe do tráfico do local e um dos principais líderes da facção Comando Vermelho.

O júri decidiu, por cinco votos a dois, condenar o réu a 19 anos e seis meses de reclusão em regime fechado por homicídio triplamente qualificado. Os jurados reconheceram que o crime foi praticado por motivo torpe, com recurso que dificultou a defesa da vítima e emprego de meio cruel. Ele ainda foi condenado, por quatro votos a três, a três anos e pagamento de 360 dias de multa por ocultação de cadáver e a seis anos por formação de quadrilha.

- A espera até o veredicto foi dura, mas ficamos satisfeitos com a sentença e com o brilhante trabalho da promotoria. Algumas pessoas consideraram a pena insuficiente. Para nós, o importante é que ele foi privado de sua liberdade pelos próximos 28 anos e meio - disse Tânia Muri, irmã de Tim Lopes.

Tânia contou que nos quase três anos que durou o processo - Elias foi preso em setembro de 2002 - não se aprofundou nos detalhes do assassinato para evitar mais sofrimento:

- Fiquei em dúvida se iria ao julgamento por desconhecer a reação que teria diante do assassino. Somente lá, tomei conhecimento de tamanha crueldade. E senti repulsa ao vê-lo: um indivíduo igual a mim e ao Tim fazer algo tão absurdo como o que ele fez.

A decisão do júri foi comemorada pela promotoria, já que a pena máxima de 39 anos, implicaria em novo julgamento. Elias começou a ser julgado na terça-feira. A previsão inicial era que a sentença saísse hoje, mas a dispensa do interrogatório das cinco testemunhas de defesa pelos advogados antecipou o veredicto, anunciado às 5h30 de ontem.

A promotoria exibiu vídeos sobre a morte de Tim e sobre o tráfico de drogas no Complexo do Alemão. Também foram ouvidas fitas com os interrogatórios de três co-réus gravadas na 22ª DP (Penha). A promotora Viviane Henriques mostrou aos jurados os objetos encontrados no local do crime: o relógio, o cordão e o gravador usados pela vítima, e a espada com a qual Elias teria golpeado Tim.

- Elias Pereira da Silva está tendo um julgamento justo, com direito a defesa, exatamente o contrário do que fez com a vítima, a quem julgou e executou de uma forma terrível - afirmou a promotora no debate.

Os advogados do réu recorreram para que ele tenha um novo julgamento. O recurso será analisado no Tribunal de Justiça. Por volta das 6h30 de ontem, Elias Maluco seguiu com escolta policial para o presídio Bangu 1, onde cumprirá a pena.