Título: Depoimento confirma indicação do PTB
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 27/05/2005, Brasil, p. A2

O governo conta também com a atuação da Polícia Federal para esvaziar a CPI dos Correios. As investigações prosseguem. Na quarta-feira à noite, a PF ouviu o ex-diretor de Administração da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT), Antônio Osório Menezes Batista. Ele afirmou que recebeu do deputado federal José Severiano Chaves (PTB-PE) o currículo do ex-chefe do Departamento de Contratações da empresa, Maurício Marinho, que foi filmado pedindo propinas a empresários. Severino Chaves desmente a versão de Osório. No depoimento, o ex-diretor da estatal conta ainda que o presidente do PTB, deputado Roberto Jefferson (RJ), teve encontro com Marinho na sede nacional da ECT, em Brasília. Na fita do recebimento da propina, Osório é citado por Marinho como uma das pessoas ''chave'' do esquema de corrupção que envolve Jefferson. Marinho afirmou ainda que ele, Osório e o ex-assessor da Administração Fernando Godoy trabalhavam ''fechados''.

Osório disse à Polícia Federal ter sido convidado pelo diretor comercial dos Correios, Paulo Menecucci, para assistir a uma apresentação de programa de treinamento para aumento da força de venda dos Correios. Contou ter gostado muito da apresentação e depois foi informado que o tal empregado que fez a apresentação era Maurício Marinho, ''dos quadros funcionais da ECT''. Além da apresentação, Osório contou que ''também'' recebeu o currículo de Marinho pelo deputado José Chaves.

- Não tenho ligação com Marinho. Apenas indiquei um amigo aqui de Recife para a Universidade dos Correios. Não era o Marinho - diz o deputado.

Segundo o parlamentar, a pessoa indicada para o cargo era um amigo seu, Carlos Pereira, de Recife. A nomeação, diz Chaves, ''não deu certo''. O curioso da história contada pelo deputado é que o próprio Carlos Pereira, que não conseguiu o cargo, teria indicado Marinho para assumir a Universidade dos Correios.

- Vim conhecer Marinho aí. Nunca indiquei o Marinho. Não tenho ligação com isso. Sou um homem livre, empresário livre. Vida limpa - insistiu o deputado.

O depoimento de Antônio Osório não ajudou muito a desvendar a existência de suposto esquema de cobrança de propinas, mas confirmou para a Polícia Federal que Roberto Jefferson esteve algumas vezes na sede dos Correios. Na terça-feira, os advogados de Marinho primeiro negaram que ele conhecesse Roberto Jefferson. Ao serem lembrados que o próprio deputado comentou ter tido encontros com Marinho, os advogados lembraram de encontros em uma ''festa de aniversário'' e outro no ''aeroporto''.

O encontro de Marinho com Jefferson nos Correios teria ocorrido em 2003, pois Osório diz que na época ocupava a Diretoria de Recursos Humanos, indicado por Jefferson, então líder da bancada do PTB na Câmara, e pelo ex-presidente do partido, José Carlos Martinez, falecido em acidente de avião.

Osório diz ter recebido orientação para não contratar pessoas ''estranhas'' aos quadros dos Correios. Osório afirmou que levantou informações a respeito de Fernando Godoy antes de convidá-lo para o cargo de assessor executivo da diretoria. No depoimento, no entanto, Osório diz não se recordar o nome de nenhuma das pessoas que abonaram o nome de Godoy. Só depois da nomeação é que Godoy foi para o PTB, diz ele.

Osório contou ainda que, após ser informado sobre a denúncia de cobrança de propina, teve reunião na casa do presidente da Eletronorte, Roberto Garcia Salmeron, onde estava o deputado Roberto Jefferson. Eles assistiram à gravação da propina. Salmeron já tinha uma versão da fita em DVD, que não soube informar onde conseguiu.