Título: Deputada critica trabalho de abrigo infantil de Taguatinga
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Fonte: Jornal do Brasil, 28/05/2005, Brasília, p. D1

Para presidente de Comissão, atendimento é ultrapassado e faltam funcionários

A presidente da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos, deputada Érika Kokay (PT), visitou ontem as instalações do Centro de Abrigamento e Reencontro, em Taguatinga, que acolhe crianças e adolescentes que vivem nas ruas. Acompanhada apenas por assessores da comissão, a deputada apontou problemas no atendimento infanto-juvenil, que classificou de ''ultrapassado'', e a falta de uma eficiente rede articulada para acompanhamento médico, psicológico e financeiro do jovem reintegrado à família. O secretário de Ação Social, Gustavo Ribeiro, contestou a parlamentar: ''isso é jogo político para se promover''. Estão acolhidas no centro 60 crianças dos dois sexos, com até 12 anos, oito meninas com idade entre 12 e 17 anos. São pequenos sem casa, com baixa renda familiar, vítimas de maus tratos ou envolvidos em prostituição e drogas. Trabalham no abrigo 135 funcionários, dentre eles 57 educadores, além de três assistentes sociais e dois psicólogos. Número baixo, segundo Érika, calculando que um agente fica responsável por cada grupo de 16 jovens.

- O plantão é de 12 hora de trabalho por 60 horas de descanso. Assim fica difícil desenvolver relações, voltar a ter vínculos familiares - afirmou a deputada, psicóloga de formação. Ela critica ainda as instalações semelhantes a creches, com quartos cheios de beliches e lanches feitos em refeitórios.

Gustavo Ribeiro explica que cinco casas-lares - onde cada grupo de 10 crianças convive com uma mãe social - serão entregues até o final do próximo mês. Antes disso, as agentes passarão por cursos preparatórios. O secretário afirma que as obras de construção e reformas foram custeadas por doações do Sindicato das Indústrias da Construção Civil do DF.

- Ela [Érika]fica alimentando um jogo sem cabimento. Não merece nem resposta - reclamou Gustavo. Ele ressalta que desde 1999 o número de creches no DF dobrou (passando de quatro mil para oito mil) e que, apenas em políticas para adolescentes infratores o orçamento saltou de R$ 4 milhões para R$ 27 milhões: ''somos referência nacional, segundo a Vara da Infância e da Juventude'', afirmou Ribeiro.

A deputada explica que as visitas fazem parte de um relatório que está sendo elaborado com vistas ao Orçamento Criança, uma proposta que será apresentada por sua equipe no dia 13 de julho, aniversário de 15 anos do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). A idéia é implementar na Lei de Diretrizes Orçamentárias para 2006 recursos específicos destinados a políticas infanto-juvenis.

- O Estatuto da Criança e do Adolescente deve ser cumprido. Crianças reintegradas ficam sem acompanhamento familiar, há dificuldades de tratamento odontológico. Muitas que vimos estão com dentes estragados - afirmou a deputada.