Título: A confiança do empresário brasileiro subiu e retornou aos níveis de 2000 - antes do apagão, da crise argentina e do 11 de setembro. É o que indica o Í
Autor: Gisele Teixeira
Fonte: Jornal do Brasil, 20/10/2004, Economia, p. A-20

O agronegócio será responsável por receitas de exportação este ano que devem chegar a US$ 35 bilhões, gerando um superávit de US$ 30 bilhões na balança comercial brasileira. Os dados foram divulgados ontem pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), com base no desempenho do setor nos primeiros nove meses do ano. Para quem trabalha da ''porteira para dentro'', no entanto, a realidade é outra e não lembra em nada a fartura dos grandes empresários brasileiros do agrobusiness. Os trabalhadores rurais ainda brigam por regras mínimas de saúde e segurança e pela redução do trabalho informal e escravo. Desde ontem, 26 federações de trabalhadores estão em Brasília participando do Seminário Nacional de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais, promovido pela Confederação Nacional dos Trabalhadores em Agricultura (Contag). O encontro, que segue até amanhã, tem como objetivo fazer pressão em duas frentes. A primeira delas, segundo explica o secretário de assalariados da Contag, Guilherme Pedro Neto, é forçar o governo brasileiro a se tornar signatário da Convenção 184 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que trata especificamente da saúde e da segurança do trabalho no campo.

- A norma já tem a adesão do Uruguai e da Argentina, por exemplo, mas o governo brasileiro não fez nada para que a ratificação fosse aprovada pelo Congresso Nacional - lamenta Neto.

O sindicalista lembrou ainda a necessidade de o Ministério do Trabalho e Emprego editar a Norma Reguladora Rural n°33, que trata da fiscalização do trabalho no campo. Neto ressalta que o desenvolvimento das técnicas de trabalho cresceu, mas a fiscalização não tem acompanhado esse movimento. Segundo ele, é preciso que a legislação regule, por exemplo, até questões como alojamento dos trabalhadores.

- O que patrão considera um alojamento digno, nem sempre é o mesmo que pensa o agricultor. E isso vale para transporte e até água potável - disse.

Neto defende que tanto a Norma Reguladora quanto a Convenção 184 sejam editadas e assinadas ao mesmo tempo.

A segunda briga do setor está ligada especificamente à cadeia produtiva do café, com ênfase nas condições de trabalho e vida nas duas principais regiões produtoras do Brasil: o Sul de Minas Gerais e o Noroeste do Espírito Santo. Neto explica que, durante a colheita, chegam a trabalhar nas lavouras cerca de 500 mil pessoas, 80% delas de maneira informal, inclusive crianças. Os trabalhadores querem que grandes empresas que compram o café brasileiro, para vender em solo nacional ou no exterior, exijam dos fazendeiros uma conduta digna de trabalho.

- Em 2003, foi detectado trabalho escravo nas lavouras cafeeiras - acrescentou.

O movimento tem o apoio da Oxfam Internacional no Brasil e da Coalizão do Café, uma iniciativa de organizações sindicais e ONGs holandesas que atuam em âmbito mundial por melhores condições sócio-trabalhistas na produção e comércio de café.

- Só a pressão internacional pode mudar este quadro - defendeu o sindicalista.