Título: Carta ataca política econômica
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 28/05/2005, Economia e Negócios, p. A18

Economistas bombardeiam metas de inflação, carga tributária e câmbio baixo

A dose de críticas à política econômica subiu de tom ontem, com a divulgação da Carta de Campinas, documento assinado por economistas no 10º Encontro Nacional de Economia Política, que terminou ontem na cidade paulista. O texto aprofunda o combate à estratégia do governo contra a inflação, a alta carga tributária e a tolerância da equipe econômica à extrema valorização do real frente ao dólar. No documento, os signatários chegam a dizer que ''a submissão incondicional da economia brasileira aos movimentos do capital financeiro destruiu mais esta esperança'', em alusão às promessas de campanha do governo Lula.

A carta diz que a macroeconomia é uma ''camisa-de-força'', que reduziu a política econômica ''à agenda micro, à melhoria do ambiente de negócios, às reformas institucionais que buscam garantir os contratos, às iniciativas para mostrar o país como lugar seguro para os investimentos estrangeiros''.

O sistema de metas de inflação também sofre críticas diretas, com o argumento de que tem êxito a custas do crescimento, que é minado por uma taxa de juros ''já muito elevada''.

''A sociedade não pode mais tolerar que se troque o emprego dos brasileiros pelo sucesso dessa política. Ao contrário, é preciso renegociar as políticas de reajuste dos preços dos monopólios privados de serviços de utilidade pública e restaurar o controle sobre a política cambial, abolindo a livre movimentação de capitais a curto prazo''.

Barreiras à entrada do capital de curto prazo, chamado de capital especulativo, são sugeridas como sugestões à excessiva valorização cambial. Na última quinta-feira, o governo argentino anunciou o aumento do tempo mínimo de permanência para os recursos que ingressam no país de seis meses para um ano. No Brasil, não há nenhum tipo de quarentena sobre o capital estrangeiro, o que pressiona a taxa de câmbio. O real valorizado é a principal queixa dos setores exportadores hoje no Brasil, que temem perder competitividade frente aos produtos de outros países.

Temas como a estrutura tributária e a reforma agrária também não foram esquecidos. ''É necessário atacar imediatamente esses problemas, implementando mudanças que permitam a progressividade efetiva dos tributos e autorizando medidas, que há muito já existem, para que se comece a reverter uma estrutura agrária absolutamente inaceitável''.

O documento enfatiza que o governo Lula ''nada fez para sinalizar alteração de rota'' e, assim, assumem a divergência com o governo petista. ''Perseverar nele significa compactuar com a mesma agenda anti-social e antinacional aberta nos anos de 1990'', termina.