Título: Cai rejeição dos franceses à Carta
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Fonte: Jornal do Brasil, 28/05/2005, Internacional, p. A7
Mas pesquisas continuam apontando vitória do ''não'' no referendo de amanhã, apesar de discurso de Chirac pelo ''sim''
PARIS - Um dia depois de o presidente da França, Jacques Chirac, fazer um pronunciamento na televisão pedindo que os franceses aprovem a Constituição Européia no referendo de amanhã, duas novas pesquisas apontaram que o ''não'' continua em vantagem. A surpresa, no entanto, foi que na sondagem do instituto CSA, encomendada pelo jornal Tribune de Genève, o ''não'' caiu dois pontos percentuais em relação à última pesquisa, no meio da semana. Cerca de 52% dos eleitores pretendem rejeitar a Carta, contra 48% que são favoráveis a ela. O ''sim'' registrou uma alta de três pontos.
Os dados são de 1.019 entrevistas feitas na quinta-feira - antes do pronunciamento de Chirac - e ontem. Quando consideradas apenas as respostas da sexta-feira, o apoio francês ao Tratado sobe para 49%.
Entretanto, para o instituto Ifop, o cenário continua tenebroso para os partidários do ''sim''. A pesquisa mostrou que entre os eleitores que já decidiram seu voto, 56% tendem a rejeitar a Constituição nas urnas. Esta sondagem também foi conduzida na quinta e ontem e mostra um aumento do ''não'', que entre os dias 21 e 23 contava com 54% de apoio.
Mesmo assim, os aliados da Carta não desistem. Ontem à noite, último dia da campanha, a publicidade ganhou os ilustres reforços dos primeiros-ministros da Espanha e da Alemanha, José Luis Rodriguez Zapatero e Gerhard Schröder, respectivamente. Ambos participaram de comícios na França. O premier italiano, Silvio Berlusconi, também enviou uma mensagem aos franceses, pedindo que eles votem pelo ''sim''.
Mas o maior incentivo veio do parlamento da Alemanha (Bundesrat) que ratificou ontem a Constituição Européia, em uma votação com o claro objetivo de encorajar os franceses.
O ex-presidente francês Valery Giscard d'Estaing, um dos idealizadores da Carta, estava no Bundesrat para testemunhar a ratificação e fazer seu último apelo aos eleitores. Chirac também agradeceu a Berlim.
- Na véspera da escolha da França, a decisão alemã assume uma importância especial e simbólica e eu a saúdo - disse o presidente. - Alemanha e França almejam e inspiram a Constituição, um tratado que permitirá à Europa ser mais forte, democrática, eficaz e mais social, com valores compartilhados.
Já os opositores da Carta defendem que o texto venera políticas econômicas que vêm se mostrando falhas em combater a perda de empregos para países com políticas salariais menores, inclusive fora da UE.
- Se o ''não'' ganhar, não haverá só uma crise na UE, mas uma rebelião política na França - disse o vice-editor da revista L'Express, Christophe Barbier. - Todos os líderes dos grandes partidos ficarão desacreditados e vai começar um período de crepúsculo para Chirac e para a selva de partidos, que vão tentar sobreviver.
O problema é que se os líderes dos partidos apóiam a adoção da Carta comum, outros membros proeminente são contrários. Tanto nas agremiações de esquerda quanto de direita, que estão divididas.
- A direita e a esquerda são como as Torres Gêmeas depois do ataque de 11/09. Não sabemos qual vai cair primeiro, mas as duas vão tombar no domingo - previu ao Libération um político da maioria no governo, em condição de anonimato.
- Se alguém disser que a segunda-feira será de caos para os líderes dos partidos, os membros contrários à Constituição dirão: ''Tudo bem. Vamos causar o caos e ver como eles saem dessa - concordou o cientista político Philippe Mechet.
O cargo mais ameaçado, se o ''não'' ganhar, é o do primeiro-ministro Jean-Pierre Raffarin. É provável que o substituto saia da batalha entre o ministro do Interior, Dominique de Villepin, e Nicolas Sarkozy, o ambicioso líder da União por um Movimento Popular, o partido de centro-direita de Chirac.