Título: Lula garante rumo para economia
Autor: Claudia Mancini
Fonte: Jornal do Brasil, 28/05/2005, País, p. A2

Em conversa com empresários japoneses, o presidente ressaltou que estabilidade é resultado de determinação política Presidente Lula e a primeira-dama Marisa visitam estação de metrô de Shimbashi, em Tóquio, para conhecer programa de divulgação do Brasil em vagão da linha Ginza

TÓQUIO - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva buscou convencer os empresários japoneses de que a economia brasileira é estável e esse quadro deve se manter nos próximos anos. Em razão do conservadorismo dos japoneses e do cuidado com que tomam decisões de investimentos, o discurso, e fatos concretos, são cruciais para atrair recursos do país asiático para o Brasil. Em pronunciamento para 700 empresários (cerca de 500 japoneses) no encerramento do Seminário Brasil-Japão: Oportunidades de Comércio e Investimentos, o presidente garantiu que agora a economia tem um rumo e não haverá surpresas.

Lula citou alguns dados para mostrar a saúde econômica do Brasil, como a marca de US$ 100 bilhões exportados, um feito ''que muita gente no nosso país com cargo importante não acreditava que fosse possível''. O presidente ressaltou que os números e feitos econômicos podem parecer pequenos para a segunda maior economia do mundo, de US$ 4,7 trilhões (cerca de dez vezes a brasileira), mas são resultado de determinação política, força de vontade e comprometimento com o país.

- Não brincamos em se tratando de política econômica. A única possibilidade de o Brasil crescer é tomar conta das contas públicas como se estivesse tomando conta do salário que levamos para casa no fim de mês. Não tomaremos nenhuma atitude que possa tornar a economia brasileira vulnerável tampouco medida populista, que muitas vezes serve para eleger um candidato, mas afunda o Brasil em anos de recessão - afirmou.

Mais uma vez, como já fez em outras viagens, Lula observou que os empresários brasileiros não devem ter medo de se tornarem multinacionais. O mundo globalizado não permite que se fique dentro da empresa esperando ser procurado para vender, advertiu. Afirmou ainda ser importante que cada um ''faça como o bom turista japonês: coloca a sacolinha nas costas, chapeuzinho na cabeça e a máquina fotográfica e vai conhecer o mundo.'' Para ele, o comércio bilateral com o Japão, de US$ 5,6 bilhões em exportações e importações, ''é inadmissível''. O presidente salientou que para se transformar num grande país ''é preciso pensar grande, ousar''.

Durante o seminário, ministros brasileiros fizeram uma exposição sobre a situação da economia e sobre as parcerias público privadas (PPPs). Lula e os ministros seguiram tom semelhante num café da manhã com 13 presidentes e CEOs de grandes empresas japonesas, do qual participaram também 18 empresários brasileiros. Nessas ocasiões, houve demonstrações de interesse em se investir no Brasil. Também foram pedidos esclarecimentos sobre regras para investidores estrangeiros, em especial nas PPPs.

No fim do seminário, foram assinados acordos entre empresas brasileiras e japonesas. Os contratos somaram cerca de US$ 2,1 bilhões. A Petrobrás assinou quatro. Um deles, para financiamento de US$ 900 milhões, foi fechado com o Japan Bank for International Cooperation (JBIC), o Nippon Export Investment Insurance (NEXI), o Sumitomo Mitsui Banking e a Mitsui e a Itochu para modernização da Refinaria Henrique Lage (Revap), em São José dos Campos (SP). Um outro, de US$ 300 milhões, foi fechado com o NEXI e Sumitomo Mitsui. O dinheiro virá de um pool de bancos e será usado em ações envolvendo questões como segurança e meio ambiente. Um terceiro acordo é um ''salto de qualidade na relação com o JBIC'', de acordo com o presidente da Petrobras, José Eduardo Durta. O acordo busca a identificação de projetos para exploração, produção e refino de gás natural em que a estatal e companhias japonesas possam a atuar juntas no Brasil e no exterior. O último, envolvendo a Mitsui e a Vale do Rio Doce, prevê estudo de necessidades logísticas para exportação de etanol para o Japão.

A Vale assinou um contrato com o JBIC de US$ 150 milhões para financiamento de logística, como compra de vagões ferroviários. O acordo inclui ainda apoio do banco para a construção de ferrovias no Brasil. Agnelli disse que a Vale tem estudado o fim de gargalos nas linhas e há interesse em construir grande parte da Norte-Sul. Ainda do lado empresarial, a Confederação Nacional da Indústria e a confederação japonesa decidiram continuar a estudar a possibilidade de fechar um acordo comercial para entrar em vigor até 2008.

Hoje, último dia da viagem, o presidente visitará a comunidade de brasileiros em Nagóia.