Título: Rejeição pode influenciar holandeses
Autor: Michel Rocard
Fonte: Jornal do Brasil, 29/05/2005, Internacional, p. A13

Pesquisa divulgada ontem mostra que 57% seguiriam o voto pelo ''não'' da França no referendo sobre a Carta Européia

AMSTERDÃ - A rejeição francesa à Carta Européia pode influenciar o referendo na Holanda em 1º de junho, revelou pesquisa do Instituto Maurice de Hond, publicada ontem. Pela sondagem, se o ''não'' ganhar na França, 57% dos holandeses o seguiriam. E boa parte dos que pensam em votar a favor consideram mudar de opção caso os franceses rejeitem a Carta. O primeiro ministro Jan Peter Balkenende pediu que a população endosse o acordo e disse que as razões para o ''não'' nada têm a ver com o tratado. A irritação do eleitorado no país é atribuída à forma como o governo conduziu a campanha em torno do pleito.

- Se você é contra o gabinete, então em 2007 poderá dizer isso nas urnas. O euro e a Turquia não têm ligação com a Carta. É preciso pensar no país - afirmou ao jornal De Telegraaf. Apelos também vieram da Bélgica.

- A Europa recuaria anos caso o ''não'' vença e todos os medos seriam exacerbados - reagiu Jean-Luc Dehaene, ex-primeiro ministro e um dos arquitetos do texto, usando discurso não incomum entre os franceses. Um dos que se inclui entre os 20% de indecisos, teme pelo futuro:

- Com o ''não'', nos deixariam de fora em tudo - disse o jardineiro Lucien Steinamm, de 23 anos.

Especialistas também pintam um quadro sombrio.

- Se a França negar e a rejeição for seguida pela Holanda, então o acordo estará morto - avaliou John Palmer, analista do Centro de Política Européia em Bruxelas. - O perigo é que poderíamos entrar em um período de profunda estagnação, talvez por três ou mais anos, até termos novas eleições na França e em outros países-chave - completou.

A avaliação não é endossada pelas autoridades do bloco.

- Seria grave, mas não o fim da integração. Não podemos falar em jogar a toalha - retrucou o Comissário Europeu para a Indústria, Guenter Verheugen.

O referendo francês começou pelo arquipélago de Saint-Pierre e Miquelon, Canadá, Guiana Francesa e Polinésia. As possessões levam 1,4 milhão de votos dos 42 milhões em jogo.

A torcida é que ocorra hoje outra milagrosa adesão dos franceses como a de 20 de setembro de 1992, na ratificação do Tratado de Maastricht, que fixava a união econômica e monetária na Europa. O então presidente François Mitterrand convocou a consulta após a Dinamarca ter rejeitado o tratado. O plebiscito ocorreu quatro dias depois da ''Quarta-feira Negra'', que abalou a economia e forçou a saída da libra esterlina e da lira italiana do câmbio europeu. Maastricht teria afundado caso a França não o aprovasse. Mas foi pelo mínimo dos votos, apenas 51,05%.