Título: Cristovam admite falta de apoio
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Fonte: Jornal do Brasil, 01/06/2005, Brasília, p. D1

Após criticar Dirceu, ex-governador não contará com o Planalto para candidatura

O senador Cristovam Buarque (PT) acredita que não será o candidato à sucessão no Palácio do Buriti. Quatro dias após o inflamado discurso no plenário do Senado - no qual culpou o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, pela nomeação de Maurício Marinho na Empresa de Correios e Telégrafos (ECT), acusado de corrupção - Cristovam admite que sua atitude dificultará articulações dentro do partido. E, mesmo sem contar com o apoio de nenhuma das alas do PT, afirma não se sentir isolado, apesar de ''não encontrar seguidores''. - Se fosse candidato ao GDF deveria controlar o que digo. No momento que o Brasil vive, estaria traindo minha história de se ficasse calado. O preço a pagar seria muito alto. Sei que esse comportamento realmente não é de quem quer atrair ou convencer - afirmou o senador ao JB. Segundo ele, ''certas coisas demoram a ser digeridas'', e cita como exemplos a defesa que fez do Plano real em 1994 e sobre a manutenção do então ministro da Fazenda Pedro Malan, em 1998.

Dentro do partido, há quem afirme que Cristovam tem deixado claro, em seus discursos, que há muito não participar das prévias para a escolha do candidato petista ao governo local em 2006. Histórico aliado do ex-governador, o deputado distrital Chico Vigilante (PT) acredita que o ex-governador vem buscando uma maneira de deixar a legenda: ''ele está construindo um espaço de não-convivência''. Vigilante acredita que a intenção de Cristovam é disputar a presidência da República. O senador nega a intenção e repudia qualquer menção sobre uma suposta saída da legenda.

- Ele pode sair do PT com dignidade, se quiser, e apresentar uma plataforma salvadora, se é que ela existe. Mas a direção não vai pedir para ele sair - afirma o distrital, que vem trocando farpas com Cristovam desde que as críticas do senador contra o governo federal tornaram-se mais intensas.

A postura de Cristovam também não encontra ressonância nas correntes mais à esquerda do PT. No último encontro do grupo, no fim de semana, o discurso do senador entrou em pauta.

- Acredito que ele ainda tenha identificação com a militância, mas o problema é a forma como ele coloca essas críticas, alimentando um embate fraticida - afirma o deputado distrital Chico Leite. Ele defende o ''bom senso'' entre Palácio do Planalto e Cristovam para resolver a questão.