Título: Morre Cauhy, o mais velho distrital
Autor: Mariana Santos
Fonte: Jornal do Brasil, 01/06/2005, Brasília, p. D3

Eles fizeram questão de ver o amigo pela última vez. Diante do corpo inerte, senhores e senhoras de 60, 70, 80 anos, anônimos em meio a tantas autoridades, despediram-se daquele que sempre mostrou solidariedade à terceira idade. Cantaram. Aplaudiram. O velório do deputado distrital Jorge Cauhy, na tarde de ontem, emocionou os idosos que vivem no Lar dos Velhinhos Maria Madalena, endereço do último adeus. Moradores do Núcleo Bandeirante foram às ruas acompanhar o cortejo fúnebre do parlamentar, que seguiu em um caminhão do Corpo de Bombeiros até o cemitério Campo da Esperança. Às 18h, durante um pôr do sol marcado pelo choro agudo da filha caçula, Cauhy foi sepultado. A agonia do distrital acabou por volta das 9h. Após duas semanas de internação no Hospital Anchieta, sofrendo as dores de um câncer que começou na próstata e havia atingido as vértebras, o organismo do parlamentar sucumbiu. Ele trazia a doença há mais de 10 anos, mas nos últimos dois seu estado começou a se agravar. Cauhy passou a andar de cadeira de rodas. Demonstrava um ar distraído durante as sessões na Câmara Legislativa, onde exercia seu quarto mandato (neste último, eleito com quase 11 mil votos). Estava afastado da Casa desde 5 de maio, quando pediu uma licença de 150 dias para tratamento médico. Usou medicamento forte para aliviar o sofrimento que arrastava aos 81 anos de idade.

- Um verdadeiro guerreiro. Convivi pouco tempo com ele, mas aprendi muito - ressaltou o presidente da Câmara, deputado Fábio Barcellos (PFL).

Políticos, secretários de governo, representantes de associações e outras autoridades candangas também prestigiaram Cauhy. O governador Joaquim Roriz esteve no velório e prometeu liberar recursos ''imediatamente'' para concluir o Hospital Geriátrico, obra iniciada pelo distrital em janeiro de 2003 e que até agora sobreviveu apenas por doações e emendas do Congresso Nacional, liberadas via Ministério da Saúde. Os familiares acreditam que as forças para lutar contra a enfermidade vinham da expectativa de ver o hospital funcionando.

- Quando ele acordava, não perguntava sobre o mandato, nem sobre a Câmara, apenas sobre o hospital, que era o maior sonho dele - afirmou Paula Cauhy, assessora e filha do distrital.

Ex-colega de Câmara Legislativa (entre 1990 e 1994), o ministro dos Esportes, Agnelo Queiroz, acompanhou o sepultamento e lembrou dos tempos em que era vizinho de gabinete de Cauhy.

- Ele dizia para mim que eu tinha sido filho dele em outra encarnação. Éramos todos muito novos na época, ele realmente era um paizão, independentemente das diferenças partidárias.