Título: Barganha do Rio gera guerra de versões
Autor: Sérgio Pardellas
Fonte: Jornal do Brasil, 29/05/2005, País, p. A5

Garotinho afirma ter sido procurado por Dirceu, que nega ter falado sobre CPI. Genoino diz que ex-governador ''fala demais'' BRASÍLIA - A notícia de que emissários do ex-governador Anthony Garotinho teriam proposto ao Planalto a retirada de assinaturas do requerimento da CPI dos Correios em troca de vantagens financeiras para o Estado do Rio provocou uma guerra de versões e um jogo de empurra entre os personagens envolvidos na negociação. A proposta foi revelada pelo JB na edição de ontem. Em entrevista ao programa de rádio ''Bom dia, governadora'', da Rádio Tupi, Garotinho confirmou as conversas com integrantes do governo Lula em torno do desbloqueio do dinheiro da chamada conta B do Banerj e a antecipação dos royalties do petróleo. Negou, entretanto, que a iniciativa tivesse partido do estado. Afirma que Dirceu lhe procurou com a oferta. No programa, Garotinho reproduziu os diálogos que teria mantido com o chefe da Casa Civil em dois telefonemas na última quarta-feira. Segundo ele, depois de recusar a oferta inicial de Dirceu, teria recebido um telefonema do ministro das Comunicações, Eunício Oliveira, avisando que Dirceu lhe faria nova proposta.

- Que proposta? Já deixei clara nossa posição - teria respondido Garotinho.

Na segunda conversa, Dirceu teria sugerido, segundo Garotinho, que ele tentasse convencer parlamentares de outros estados, como Cabo Júlio (MG) e Gilberto Nascimento (SP), a desistir de subscrever o documento, uma vez que resistia em fazer o pedido a deputados do Rio. Mais uma vez, Garotinho não teria aceitado a oferta. Diante do impasse, Dirceu, segundo o ex-governador, teria sinalizado com a possibilidade de atender às duas reivindicações do estado.

- Estou disposto a ir ao Rio para retomarmos os entendimentos sobre os royalties - disse Dirceu, segundo Garotinho.

O deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) também apresentou sua versão. Disse ter sido procurado por emissários do Planalto, entre eles os deputados Sandro Mabel (PL-GO) e João Paulo Cunha (PT-SP), a fim de estabelecer um diálogo em torno da retirada de assinaturas da CPI . A contrapartida seria a liberação de R$ 350 milhões das contas B do Banerj.

- Imediatamente procurei Garotinho transmitindo a proposta, que recusou toda e qualquer negociação que envolvesse a retirada de assinaturas.

Segundo publicou ontem o JB, na noite de quarta-feira Cunha se apresentou como emissário de Garotinho ao secretário de Política Econômica da Fazenda, Bernard Appy, dizendo ter em mãos um documento com 18 nomes de parlamentares que se disporiam a retirar o endosso à CPI caso o Planalto os atendessem em três pleitos: a liberação de R$ 350 milhões das contas B do Banerj, a antecipação de R$ 1 bilhão de pagamentos dos royalties do petróleo e a construção de uma refinaria no estado. Depois de ouvir a proposta de Cunha, o secretário de Política Econômica telefonou para Dirceu, que desautorizou a negociação. Dirceu também teria sido procurado, horas antes, pelo deputado Geddel Vieira Lima (PMDB-BA). Além de deixar de ser um dos signatários da CPI, o peemedebista convenceria cinco parlamentares a fazer o mesmo.

Em contrapartida, queria ver fechado um contrato com a Construtora RG no valor de R$ 5 milhões para obras na Infraero, estatal que administra os aeroportos. A conversa com Geddel, que durou mais de três horas, teria sido testemunhada pelo ministro Jaques Wagner, do Desenvolvimento Econômico e Social. O ministro, no entanto, negou ontem ao JB ter sido testemunha do diálogo e garantiu desconhecer o assunto.

Apesar de Garotinho ter negado que a proposta tivesse partido de emissários do governo do estado, a liberação do dinheiro das contas B do Banerj, a antecipação dos royalties e a construção de uma refinaria no Rio eram demandas históricas do Estado. Segundo interlocutores da governadora Rosinha Matheus, caso os pedidos fossem atendidos, teriam um grande impacto na campanha de 2006.

O presidente do PT, José Genoino, afirmou ontem que a relação do Planalto com o Rio é ''institucional, política e administrativa''. Ele negou a barganha entre o governo federal e o estado para abortar a CPI dos Correios:

- O Garotinho fala muito.

A tarefa de Dirceu, disse Genoino, é ''se relacionar com os governadores'' no campo da administração. Por meio de sua assessoria, Dirceu confirmou que telefonou para Garotinho, mas disse que não falou sobre CPI.