Título: Brasileiros no Japão pedem ajuda a Lula
Autor: Claudia Mancini
Fonte: Jornal do Brasil, 29/05/2005, País, p. A4

NAGÓIA, JAPÃO - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva era só sorrisos aos brasileiros que vivem em Nagóia, no Japão, nas aparições públicas que fez na cidade, no sábado, último dia de sua viagem. Pouco demonstrou o cansaço como em outros momentos de sua visita à Asia, que começou no dia 23, na mesma semana em que, no Brasil, sofria uma nova derrota com a criação da CPI dos Correios. O presidente passou o sábado em Nagóia e partiu no fim da tarde para o Brasil. Novamente, ele não falou com a imprensa. Ao visitar uma exposição com estandes 80 empresários brasileiros que vivem no Japão, Lula disse que determinará aos seus ministros que tratem das demandas dos brasileiros naquele país. São 285 mil trabalhadores e muitos problemas: eles reclamam por não receber igual tratamento que os japoneses nas empresas, como férias remuneradas. Há ainda demandas para que o tempo de trabalho nos dois países seja reconhecido para fins de aposentadoria.

- Meu objetivo é conseguir que o povo brasileiro aqui tenha o mesmo tratamento que os japoneses que estão no Brasil - afirmou o presidente Lula.

Lula escutou muitas histórias por onde passou. Uma delas foi a de Francisco Freitas, que esta há cinco anos no Japão, trabalha na Suzuki e disse receber salário de US$ 2 mil ao mês. Ele vive com a esposa e três filhos e declarou estar sofrendo do que chama de ''a exploracão''que os dekasseguis (descendentes de japoneses que emigram para trabalhar no Japão) sofrem. Ele pediu os mesmos direitos trabalhistas dos japoneses que trabalham no mesmo lugar. Em sua conversa com o primeiro ministro do Japão, Junichiro Koizumi, Lula recebeu a garantia de que os problemas vividos pelos brasileiros teriam maior atenção.

O consul do Brasil em Nagóia, Eurico de Freitas, informou que a maior concentração de brasileiros no país é na grande Nagóia, onde fica a sede da Toyota: são 34 mil. As províncias de Aichi, onde está Nagóia e Shizuoka têm juntas 98 mil brasileiros. Lá existe uma alta concentração de empresas do setor automobilístico e de eletrônicos. De acordo com o diplomata, há poucos brasileiros ilegais no Japão. Muitos deles vêm ao Japão por meio de empreiteiras de mão-de-obra que se responsabilizam por acertar trabalho para eles. O preço normal que deve ser pago pelo serviço é em torno de US$ 2,5 mil, mas há as que chegam a cobrar U$ 7 mil. Há casos em que empreiteiras não idôneas cobram caro e ficam com o passaporte dos brasileiros até que a dívida seja paga. Há hoje 91 brasileiros presos nas 32 províncias de jurisdição do consulado, 80% por furto. Mas como a lei de privacidade é muito rígida no Japão, o consulado só fica sabendo desses casos se o preso pedir ajuda ao governo brasileiro.

Existem também jovens fora das escolas porque não conseguem falar o idioma local ou não têm, por exemplo, recursos para pagar escolas que ensinam a língua portuguesa. De acordo com o ministro do Turismo do Brasil, Walfrido Mares Guia, há 63 escolas brasileiras no Japão, mas só 36 são certificadas pelo MEC. Dessas, 19 têm o ensino médio e foram reconhecidas pelo governo japonês para admissão dos alunos nas universidades do país. Das 19, seis são da brasileira Pitágoras, da qual Guia é fundador. Segundo o consulado, há cerca de 40 mil brasileiros de até 17 anos no Japão. Desses, 8 mil estão em escolas brasileiras, 15 mil estão em escolas japonesas e 17 mil estão fora delas. A existência dessas escolas resolve um problema de educação, mas pode tambem reforçar o isolamento dos jovens da sociedade japonesa. Conseguir se inserir na comunidade é uma das maiores dificuldades dos brasileiros no pais asiático.