Título: Reforma ministerial pode ser resposta à CPI
Autor: Sérgio Prado
Fonte: Jornal do Brasil, 29/05/2005, País, p. A4
Na volta do Japão, Lula terá de decidir como recompor sua base de sustentação BRASÍLIA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chega hoje às 7h30 da Ásia e encontrará sua mesa ainda mais cheia de problemas na área política do que quando saiu do país. Em sua ausência, sua base de sustentação no Congresso lhe deu de presente uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar irregularidades nos Correios. Por isso, há nos bastidores a idéia de que o presidente responderá com uma reforma ministerial. Apesar de ter negado tal hipótese, ela se torna quase inevitável como forma de acomodar os partidos dentro do Congresso. - Seria natural que o presidente reagisse com uma reforma - prevê o cientista político David Fleischer.
De fato, o chefe do Executivo tem problemas demais envolvendo seu gabinete. O caso mais crônico é a articulação política, onde o ministro Aldo Rebelo é desrespeitado até por seu próprio partido. Tanto que seis deputados do PCdoB assinaram o pedido de instalação da CPI dos Correios.
Junto ao PT, o partido de Aldo foi preponderante para dar à oposição o melhor palanque que PFL e PSDB poderiam esperar. E olha que nem chegou o Natal, brinca um tucano de pluma bem lustrosa em São Paulo. No Congresso, está muito claro que o desejo maior da oposição é desconstruir a candidatura de Lula em 2006. Durante a viagem à Ásia, o próprio presidente disse que a oposição se apegou à CPI por não ter bandeiras na área econômica e social para apresentar nas próximas eleições.
Por esta linha de raciocínio reconhecida até pelos oposicionistas, faz sentido a posição do ministro José Dirceu. O chefe da Casa Civil classifica os 14 petistas, que apoiaram a CPI, como alinhados de pefelistas e tucanos contra o Palácio do Planalto.
A desordem atual da base do governo marcou a eleição de Severino Cavalcanti para presidir a Câmara. E culmina agora com uma crise de identidade que inviabiliza votações importantes. A reforma tributária, por exemplo, sai da pauta do plenário e ninguém acredita mais que possa ser aprovada neste ano.
- Nós somos os principais responsáveis por tudo isso - reconhece o líder do PT no Senado, Delcidio Amaral, do Mato Grosso do Sul.
O senador petista, que participou do governo Fernando Henrique, diz que qualquer CPI nunca mira na investigação de fato. Aliás, esta sempre foi a visão de Fernando Henrique quando o PT de Lula tentou instalar várias investigações do mesmo tipo em oito anos de mandato.
- CPI é um ato político - crava Delcidio Amaral.
Uma nova preocupação assola o Planalto. Tanto Dirceu quanto Delcidio atacaram a tentativa da oposição de estender a outras estatais a investigação dos Correios. Existe uma brecha, na justificativa do texto da CPI, que poderia levar à ampliação das diligências, algo capaz de paralisar licitações e projetos essenciais para o país.
- Seria um desastre para o governo todo - analisa David Fleischer.
O cientista político chama a atenção ainda para mais uma ponta do fio desse enorme nó que o governo terá de desatar.
É a estratégia do próprio Planalto de levar adiante outras CPIs a fim de esvaziar e tirar dos holofotes da dos Correios.
Na Câmara, por exemplo, está montada a CPI do setor elétrico. O objetivo seria investigar as privatizações no governo de Fernando Henrique. Só a simples possibilidade de ser instalada esta comissão faz arrepiar gente do Planalto e da Planície.
- Não queremos nem pensar numa coisa dessas - diz um interlocutor do setor privado, com escritório em endereço valorizado de São Paulo.
Por isso, setores bem articulados do empresariado com trânsito em Brasília apostam que na hora certa haverá uma forma de o governo resolver a questão dentro do Congresso. Foi assim com Fernando Henrique, é razoável que Lula siga o mesmo caminho, raciocinam.
O rumo está dado dentro do Senado e da Câmara. A forma de neutralizar a CPI seria através da escolha de homens de confiança do Planalto para conduzir os trabalhos.