Título: Cronograma polêmico para a 3G
Autor: Marcela Canavarro
Fonte: Jornal do Brasil, 30/05/2005, Internet, p. A23

Meta estipulada pela Anatel, de implementar tecnologia até 2006, é criticada em conferência no Rio De onde alocar recursos para implementar, já em 2006, a terceira geração de celulares no Brasil, como pretende a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel)? A questão foi colocada pelo Chief Technology Officer (CTO) da Siemens, Mário Baumgarten, na 5ª edição do Rio Wireless, conferência internacional que este ano teve como tema as tendências em serviços móveis.

- Este é o momento econômico errado. O caminho para o sucesso é esgotar o potencial da 2G para depois investir na 3G, já que estamos realizando a universalização da telefonia móvel através da competição. Mudar o rumo com uma regulamentação pode ser prejudicial - analisa.

Para Baumgarten, os investimentos devem ser canalizados para a 2G, com uma meta de alcançar pelo menos 60% da população, contra os 40% atuais. Ele defende uma posição menos pró-ativa da Anatel para deixar que a dinâmica do mercado modele as condições do setor de forma natural.

- Isto evita tornar o mercado nervoso e irracional por conta de uma regulamentação precipitada. Um leilão apimentado para atrair uma nova empresa estrangeira pode matar a indústria nacional porque o mercado brasileiro ainda é incipiente e as condições de concorrência para a 3G ainda não estão bem definidas - completa o executivo.

Baumgarten se refere a uma das possibilidades consideradas pela Anatel, de trazer uma quinta operadora para cada região do país, embora já se comente no mercado uma tendência de que uma das quatro grandes empresas presentes no Brasil - TIM, Vivo, Claro e Oi - seja incorporada por outro grupo.

A posição de Baumgarten vai de encontro ao anúncio da Anatel na última Telexpo, em janeiro, e reforçada no Rio Wireless, semana passada, de que a terceira geração de celulares começaria a ser implementada por aqui em 2006.

Pelos planos da Anatel, as faixas de 1,9 GHz e 2,1 GHz seriam redirecionadas para a 3G, além da faixa de 2,6 GHz, padrão mundial estabelecido pela União Internacional de Telecomunicações (UIT). As licitações para as primeiras faixas começariam ainda este ano, com maturação em 2009 e demanda por novas faixas dentro de cinco anos, em 2010.

A postura da Anatel também foi criticada por Daltron Magalhães, analista da Guerreiro Teleconsult, que considerou a Anatel uma órgão excessivamente regulador.

- A regulação deve acontecer apenas quando houver nítida necessidade. O ideal é a mínima interferência - afirmou Magalhães.

Para o o diretor de Relações Institucionais da Nortel, Newton Scartezini, uma postura pró-ativa da Anatel é favorável aos consumidores.

- As políticas públicas mais eficazes são as que induzem ações, não as que restringem. A missão principal da Anatel é defender os consumidores e o melhor meio para isso é a concorrência.

Segundo Baumgarten, no entanto, nenhum estado brasileiro está maduro o suficiente para a chegada do 3G. Com renda per capita de US$ 2,7 mil, o Brasil ainda está longe da média de US$ 10 mil dos países onde há mais concentração destes serviços. Em todo o mundo, apenas US$ 8 bilhões dos US$ 500 bilhões do setor não são movimentados por serviços de voz ou SMS.

Para ele, a solução é esperar um certo grau de maturidade em países desenvolvidos para só então começar a implantação no Brasil.

Embora tenha conseguido o apoio de parte da platéia presente, as afirmações enfáticas de Baumgarten causaram polêmica. Para o vice-presidente da Qualcomm, Valerijonas Seivalos Jr., a renda per capita de estados como São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, centros urbanos prioritários para começar a implementação da 3G no Brasil, têm níveis semelhantes à de cidadãos de países mais ricos.

- O cidadão brasileiro envolvido em negócios tem uma exigência de uso de dados como qualquer europeu ou americano. O aculturamento massivo vem com o tempo. Isso leva uns 3 ou 4 anos, mas nenhuma troca de tecnologia se faz em menos tempo que isso - pondera.

Ele destaca que o alto número de celulares pré-pagos - mais de 80% da base brasileira - não é um entrave.

- Cerca de 40% dos assinantes pré-pagos são de classe média e devem migrar para a 3G.