Título: Petistas rebeldes atacam governo em encontro no Rio
Autor: Paulo Celso Pereira
Fonte: Jornal do Brasil, 31/05/2005, País, p. A2

Cinco deputados federais do chamado Bloco de Esquerda do PT se reuniram ontem no Rio para rebater a sugestão do ministro chefe da Casa Civil, José Dirceu, para que eles fossem para a oposição. O evento, que estava programado antes do pedido da CPI dos Correios, se transformou num ato em defesa da autonomia do bloco, que assinou a abertura de comissão de inquérito. Por trás da defesa, a resposta às ameaças de punição feitas desde quinta-feira pelo presidente do PT, José Genoino, e por Dirceu ¿ É um perfeito paradoxo. Por causa de uma denúncia que envolve possível esquema em licitação nos Correios, com acusação de ser patrocinado por Roberto Jefferson, de repente, o problema somos nós. Há algo errado, é foco míope e profundo equívoco de avaliação política ¿ defendeu Chico Alencar (RJ).

Na mesa de debates, uma enorme faixa anunciava: ¿Por um PT coerente e combativo ¿ Bloco de Esquerda¿. A reunião foi a quarta de uma série que já havia passado por São Paulo, Recife e Curitiba, sempre debatendo os rumos do partido.

O deputado Ivan Valente (SP) repudiou as críticas de líderes do partido de que o bloco faria oposição ao governo.

¿ Não somos oposição. Eles é que estão fazendo oposição ao programa, à história, à trajetória e à coerência do PT ¿ atacou Valente.

A deputada Maninha (DF) foi uma das mais ácidas. Para ela, a alegação de que a CPI contribuiria para a desestabilização do governo é falsa, já que o presidente Lula não seria investigado :

¿ Criou-se uma situação como se estivéssemos vivendo uma crise. Que governo é esse tão fraco que uma CPI derruba? ¿ questionou.

Para os parlamentares do bloco, o ideal era que os 91 deputados do PT apoiassem a CPI. Assim teriam evitado o temido palanquismo da oposição.

¿ Se chegássemos propondo a CPI, tomávamos a iniciativa política, mantínhamos nossa tradição e não permitiríamos o palanquismo. Agora, a oposição tucano-pefelista está se deliciando com as incoerências do PT ¿ alertou Alencar.

Ao menos em um ponto, os chamados ¿rebeldes¿ concordam com o governo: de que a presidência e a relatoria da CPI caibam ao PT e a partidos aliados, desde que isso não impeça o trâmite das investigações. O grupo acredita que com o Congresso praticamente parado há meses, a CPI seria uma prestação de contas à sociedade.

No encontro, que reuniu também os deputados federais Mauro Passos (SC) e Dra. Clair (PR), dois pré-candidatos à presidência do partido Valter Pomar e Plínio de Arruda Sampaio, o deputado estadual Alessandro Molon e o vereador Eliomar Coelho, o grupo defendeu que as ameaças não se consumem. Segundo os parlamentares, o Diretório Nacional não havia fechado questão à respeito da CPI, portanto seriam inaceitáveis as promeças de retaliações futuras.

¿ Isso é fugir do debate político atual ¿ disse Valente.

Maninha continuou:

¿ Dizer que vai tirar cargo e reter emendas para nós não é novidade. Não temos cargo no governo desde a votação da Reforma da Previdência e do salário mínimo.

Apesar da tensão, os deputados ¿rebeldes¿ não perderam uma oportunidade de debochar dos governistas. Ao ver o deputado Ivan Valente chegando, Chico Alencar provocou:

¿ Finalmente chegou um deputado de São Paulo, essa turma que manda no PT.

E a deputada Maninha não perdoou:

¿ Eles acham que mandam e acham que obedecemos.

Antes de começar a palestra, Chico Alencar desabafou para os participantes:

¿ Teimamos em achar que não sonhamos o sonho errado. Embora de vez em quando tenhamos pesadelo com isso.