Título: Governo ainda briga para retardar CPI
Autor: Daniel Pereira e Sérgio Pardellas
Fonte: Jornal do Brasil, 31/05/2005, País, p. A3

Passado o turbilhão de não ter conseguido retirar as assinaturas para impedir a instalação da CPI dos Correios, o governo busca recuperar o fôlego, usando o regimento para ganhar tempo. A estratégia passa por duas frentes. A primeira é na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, que analisará questão de ordem apresentada pelo deputado João Leão (PL-BA), vice-líder do governo na Casa, contra a investigação. A segunda é a falta de pressa para indicar os nomes para compor a CPI. Até ontem, apenas os 10 integrantes da oposição e o senador Valmir Amaral (PP-DF) estavam confirmados.

- Vamos agir como maioria, utilizando todos os dispositivos regimentais que puderem ser usados - disse o líder do PT na Câmara, Paulo Rocha (PA).

Líder do PT no Senado, Delcidio Amaral (MS), confirmou a estratégia. Segundo ele, os líderes da bancada governista indicarão integrantes para a CPI só depois da decisão da CCJ. Na tropa palaciana, ainda há esperança de uma decisão pela inconstitucionalidade do pedido de investigação. A alegação é de que não há ''fato determinado'' a ser investigado na CPI. Mas apenas referência a ''atos delituosos praticados nos Correios'' e em outras estatais.

Se a CCJ não sepultar a investigação, o governo quer ao menos restringir a CPI ao suposto esquema de corrupção nos Correios. O presidente da CCJ, deputado Antônio Carlos Biscaia (PT-RJ), que assinou o pedido de CPI, não abre mão de sua prerrogativa de colocar a matéria em pauta assim que chegar à comissão, o que ainda não aconteceu. Como o regimento prevê um prazo de três sessões, o petista acha difícil que o assunto seja resolvido esta semana. Biscaia também demonstra cautela na escolha de um nome para relatar o recurso na CCJ.

- Não acho prudente um relator do PT. Até para reforçar o caráter de imparcialidade.

Se o PT pode não ficar com a relatoria na CCJ, não pretende abrir mão de presidir ou relatar a CPI. A semana começa com dois nomes na disputa: João Paulo Cunha (PT-SP) e José Eduardo Cardozo (PT-SP). Os petistas escondem o nome do preferido, entoando loas aos dois candidatos: o primeiro, ex-presidente da Câmara, tem bom trânsito na Casa. Daria grandiosidade ao posto. O segundo, apesar de estar em primeiro mandato, é conhecido pelo seu saber jurídico e foi presidente da Assembléia de Vereadores de São Paulo.

Apesar de o presidente do Congresso, Renan Calheiros (PMDB-AL), recomendar uma composição entre governo e oposição, garantindo a cada um dos lados um dos postos-chave da CPI, aliados ainda nutrem ontem a esperança de comandar os dois postos.

- A idéia é conversar com a oposição e buscar um solução para a presidência e a relatoria indicando bons nomes para que a CPI não fuja do seu objeto - disse Delcidio Amaral, mostrando preferência pela relatoria.

Apesar do discurso diplomático, os governistas têm na manga duas estratégias para ficar com os dois postos. Uma é eleger o presidente da CPI em votação. Como tem maioria na comissão, o Planalto ficaria com o posto, por meio de um senador do PMDB. O presidente eleito, por sua vez, indicaria o relator, que seria um deputado do PT, partido detentor da maior bancada na Câmara.