Título: TAP traça estratégia para Varig
Autor: Marcos Troyjo
Fonte: Jornal do Brasil, 31/05/2005, Economia, p. A17

Surgem os primeiros contornos da proposta que a Transportes Aéreos Portugueses (TAP) vem articulando para o futuro da Varig, de modo a assumir as operações da empresa brasileira. Segundo membros do novo Conselho de Administração da Varig e fontes que acompanham as negociações, a estratégia da TAP não prevê desembolsos ou investimentos. Operacionalmente, o quadro sugerido pela TAP estipula que diferentes regiões do mundo onde atua a Varig terão tratamento diferenciado, com base nos interesses mais imediatos da empresa portuguesa. Do ponto de vista jurídico, a estratégia da TAP é criar uma holding a partir da Fundação Ruben Berta Participações (FRBPar) e daí ''blindar'' uma nova pessoa jurídica que viria a controlar as operações. O plano da TAP buscará fazer de Lisboa um hub (centro de confluência) para todos os vôos originados do Brasil com destino à Europa. Para o mercado interno brasileiro, pretende-se a transferência das rotas à Gol Linhas Aéreas, caso a empresa aceite as condições a serem impostas pela Gol.

Para destinos nos EUA e Canadá, a Varig teria de continuar a competir com as empresas americanas. A operação da Varig, como se conhece hoje, seria descontinuada. As linhas para a América Latina seriam operadas pela TAP a partir do Aeroporto Internacional de Guarulhos.

Apesar de não contemplar a injeção de novos recursos para a Varig, a TAP demanda precondições para avançar no negócio.

Segundo analistas do setor de aviação, a empresa portu-guesa poderá pressionar o go-verno brasileiro de modo a que seja emitida Medida Provisória acerca do passivo da Varig S.A. De todas as dívidas da Varig, 60% dizem respeito ao governo ou estatais. A TAP também deverá demandar sacrifícios das empresas de leasing, buscando alongar os prazos para contratação de aeronaves.

Caso o governo brasileiro não ceda a pressões para a edi-ção de MP voltada à blindagem da nova empresa, vislumbra-se provável alternativa. A TAP, no intuito de proteger a holding, tentaria fazer com que a Varig S.A. e seu passivo fossem remetidos à nova Lei de Falências, que estará em vigor a partir de 8 de junho.

A estratégia da TAP encontra, no entanto, vários obstáculos. Setores de governo e da sociedade enxergam na investida séria ameaça de desnacionalização da marca brasileira mais conhecida no mundo.

Por tratar-se a TAP de em-presa estatal, o governo portu-guês, inadimplente junto à União Européia, terá dificuldades em ajustar suas contas públicas para fazer frente à pretensão junto à Varig. No Brasil, a proposta também terá de passar pelo crivo do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e do Departamento de Aviação Civil (DAC).

Fontes especializadas no setor aéreo afirmam que a companhia aérea portuguesa seria tão beneficiada pela operação quanto a brasileira. A TAP, afirmam, vive a necessidade de uma aliança que a habilite a concorrer com empresas que foram bem-sucedidas em processos de fusão para aumentar sua rentabilidade, já que opera principalmente no mercado português, considerado pequeno para grandes companhias.

A aliança recente mais conhecida no setor ocorreu entre a Air France e a KLM, que formaram a segunda maior empresa aérea do mundo em termos de faturamento.